28 de janeiro de 2010

Professora sim e com muito orgulho!




Dia desses me perguntaram se já havia nascido professora."É que a senhora é tão bacana em sala que a gente não consegue lhe enxergar sendo outra coisa”. Impressionante, mas eu nunca quis ser professora. A licenciatura me escolheu porém eu não havia jamais escolhido o magistério para a carreira profissional. Não fui menina de muitos sonhos, sempre quis o possível mas já pensei alto também. Lembro que quando cheguei na adolescência a única coisa que me ocorria na cabeça era ser advogada. Não entendo o porquê hoje, mas, naquela época, eu queria ser juíza pra aparecer, ganhar dinheiro, chamar a atenção de todos e dar orgulho aos meus pais. Direito era uma área difícil e eu confesso que não tive sucesso nos meus projetos.Eu era aborrecente demais. Não tinha gana, força, vontade. Fiquei nos sonhos e na incapacidade de realizá-los. A vida, aos poucos, foi me mostrando que a realidade, essa que vivemos, é cruel com quem não toma as decisões certas no momento exato. Casei muito certo. Apanhei muito cedo. Engravidei muito cedo. Me separei muito cedo. MUITO CEDO. Mas não TARDE DEMAIS! Voltei pra casa da mamãe, no 47, morei de favor na casa da minha irmã e ela me propôs que eu terminasse o Magistério e tentasse a carreira de professor - é que ela era dona de uma escola particular lá em Santa Luzia, o CEPEV, a primeira escola onde ministrei aula. Eu não tive escolha, mas ela me deu chance. O insucesso me deixou sem chão mas ela me ensinou que eu poderia voar. Volta à sala de aula depois de tanto tempo longe de casa, de ter tentado na capital sem vitórias era,e foi, o maior desafio que eu tive que superar. Topei a parada, paguei o preço. Me rematriculei na Florentina Damasceno, escola por onde eu já havia passado e pra qual jamais pensaria em voltar. Fiz as aulas, estudava à noite. Reencontrei antigos amigos. Fiz boas amizades, conquistei professores, e me formei no Ensino Médio novamente para o Magistério. UM RECOMEÇO. Foi aí que o meu namoro com as letras começou. Eu fui pra sala de aula por força da necessidade. Tinha uma filha muito pequenina ainda. Queria comprar uma casa. Reconstituir a minha vida.
Fui professora pela primeira vez para o ensino infantil. Lembro como se fosse hoje, aquelas criancinhas lindas e cheirosas me chamando de tia, pedindo pra eu ensinar a elas como se pegava no lápis. Vivenciei situações inesquecíveis e inenarráveis. O olhar daqueles bebês loucos pelo prazer de escrever o próprio nome: letras de forma, letras caídas fora da linha da página do caderno, letras misturadas, mal feitas e sem qualquer coordenação motora. Era lindo. A soletração, os primeiros números, o ditado, o circular das palavras que continham certas letras. “C de CASA!”, elas repetiam e eu “MUITO BEM!”. Eu era feliz em saber que havia saído de uma fase tão complicada pra ensiná-las a entrar nas fases delas. Recebia presentes, beijos, abraços, sorrisos, carinhos, lanches – elas dividiam o biscoite recheado comigo e adoravam porque eu nunca gostei do recheio e ele era o que elas mais gostavam, nós fazíamos uma troca, eu comia o biscoito e elas o recheio. Era tudo muito lindo e eu aprendi a aceitar a minha sina. Os pais me adoraram, me elegiam a professora do ano, do mês. Lembro que quando eu comecei a achar aquela escola pequena demais pra mim, os pais dos meus alunos entraram em desespero. Eu pedi demissão, queria descobrir o mundo lá fora, tentar a faculdade novamente e eles, os pais, não aceitavam. Fizemos uma reunião e eu expliquei que estava sendo difícil pra mim conviver com coisas tão pequenas para os imensos sonhos que eu estava sonhando e queria realizar. Criei coragem. Me demiti na quarta e viajei na quinta pra Belém. Ali, eu já sabia voar. A vida já tinha me ensinado as grandes lições e, na porrada, eu havia aprendido. Estudei no Cearense, me destaquei, fiz curso de física, me destaquei, fiz preparatório de matemática, me destaquei, me escrevi num curso de redação, me destaquei.Fui para o Impacto e me destaquei. Eu estudava pra passar. Me preparei para o primeiro lugar e, de tão conhecida, fui chamada para ser monitora de redação. Aceitei por força da necessidade. Deu certo, tão certo, que hoje, eu sou a Professora Joana Vieira, a Juju, do IMPACTO. E se hoje você me perguntar “Professora, a senhora quer ser outra coisa além de professora?”. Não. Deixei de ser egoísta e conclui, com o tempo, que não devemos fazer apenas o que queremos, devemos, sim, fazer o que deve ser feito. Sou professora. Professora de Língua Portuguesa com MUITO ORGULHO, devo dizer.

Lembro o primeiro dia em que entrei no IMPACTO. O professor Rui Navega, estacionou o carro, uma parati verde, na frente da escola, a Unidade da Padre Eutíquio e eu abismada falei: “Nossa essa escola é grande demais pra mim!”. E ele, “Não pense assim, minha filha, o tempo vai te mostrar que você é bem maior. Um dia esse prédio vai te sufocar de tão pequeno que ele é!”. Hoje eu compreendi o que ele quis dizer e penso agora: É VERDADE!

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