19 de fevereiro de 2010

O PASSADO É UMA PARADA


Estava adentrando o supermercado Formosa quando fui surpreendida por uma dessas promotoras de venda que oferecem a nós doces, provas ,ou ainda, sachês demonstrativos desse ou daquele produto. Pedia que eu provasse as duas novas fragrâncias do Leite de Rosas – fresh e pétalas. Um pequeno kit com duas miniaturas do produto era a doação gentil da indústria, diga-se aqui, brasileira, aos consumidores que por ali passavam quando das compras domésticas. Fiquei com os pequenos frascos nas mãos pensando: “Anos e anos e, depois de tanto tempo, esse frasco ainda é o mesmo! Nossa!”. Quem de nós não se lembra daquele ‘vidrinho’ de plástico cor de rosa com o rótulo e a marca em branco em fontes cafonas com a tampinha de enroscar branca também? Lembrei que, às vezes, abria o vasilhame com a boca porque parecia emperrado. A gente derramava o produto nas axilas que ficavam cheirosas e brancas também. Caramba...Leite de Rosas é muito antigo. O que podemos chamar de desodorante tradicional! Impossível não lembrar. Aí, fiquei pensando, quanta coisa a gente usava na minha época de adolescência lá no 47 e que hoje nem existe mais? Produtos de higiene de todo o ser nascido em Santa Luzia eram aqueles de muito cheiro e de frascos antigos e cafonas: Neutrox, lembram? Condicionador com um perfume que de tão cheiroso enjoava ao estômago. Um dia, enquanto percorria os olhos pelas prateleiras de uma farmácia, um vidro de Neutrox me chamou a atenção. Estava lá, em pé, no meio da prateleira, esquecido, sozinho, porém com toda a sua dignidade:redondinho e alto, com a tampa vermelha, tal qual ele sempre foi durante toda a minha infância. Senti aquele cheiro e instantaneamente lembrei exatamente de tudo: os dias de festa, catecismo e missa, a sensação de morar e viver no interior, o banho de igarapé e chuva e os minutos perdidos amaciando os cabelos com Neutrox. Aquele cheiro está em mim até hoje.naquela época em que condicionador era creme, o neutrox não seria nada sem um perfume mais catastrófico ainda, o cheiro do shampoo que, no 47, gente cheirosa mesmo usava: o Darling! (KKKKK). Inesquecível!!!Pensa num shampoo cheiroso!!!Olha, gente, eu, sinceramente, acho que, naquela época, não havia ninguém fedorento porque com uns produtos desses, não tem combate! Aí, a galera tomava banho com Darling, fazia massagem com neutrox, usava desodorante leite de rosas, o perfume, não havia outro, só o Musk....KKKKKKKKKKKKKK. O passado é realmente uma parada!Muito bom relembrar! E esse pessoal de hoje pagando caríssimo pela Natura ou O Boticário, sem saber que produto bom mesmo era os do nosso tempo. Quando a molecada cheirava a talco barla, lavava o cabelo com lux tradicional que ganhávamos no amigo invisível; os adolescentes cheiravam mais que penteadeira de quenga e as vovós, nossa, essas não saíam de casa sem espirrar no pescoço a colônia alma de flores – aqueles quites que ganhávamos em aniversario (kkkkkkkkkkk). Tempos bons aqueles, pena que não voltam mais! Se eu fechar os olhos consigo até me ver saindo de casa aos chamados do sino para a missa dos jovens toda perfumada com os meus produtos tradicionais usando a roupa e os batons que pedíamos nos catálogos da Avon ou da Hermes (kkkkkkkkkk).Uma piada!

18 de fevereiro de 2010

PERSONALIDADE LUZIENSE: BENEDITA SALDANHA


E, na postagem sobre a personalidade luziense, teremos por aqui a visita mais que ilustre e emocionante de ninguém menos, ninguém mais que a professora Benedita Saldanha, a Benezinha!Tarefa difícil essa minha de hoje. Meu coração, sem dúvida, não me deixa ser imparcial porque a Bené é uma pessoa que eu amo – MUITO. E sei que é impossível falar dela sem por no texto as palavras que só o meu coração de ex-aluna sabe escolher. Mas vamos lá, pois me alegra poder em vida deixar registrado a minha impressão que foi eternizada por ela a cada vez que adentrava aquela sala de aula lá da Florentina.

Há situações na vida que é impossível não penetrar em nós. Imagens que marcam como tatuagens na visão e nos sentimentos. Se eu fechar os olhos e fizer um passeio no tempo, é possível que consiga sentir o cheiro e o barulho daquele corredor da escola Florentina Damasceno. Não éramos mais crianças quando adentramos a rotina dos adultos que estudavam por lá. Estávamos crescidos e adentrávamos aquela escola num sonho de infância: estudar na Florentina era a vontade de todos. Colégio de tradição, infra estrutura, merenda escolar, feiras culturais, desfile de Sete de Setembro, Semana da Pátria e a tão falada e elogiada Professora Benezinha.
Está em mim a zoada da campa sinalizando a entrada, naquela época ainda feita pelo portão detrás, grades altas feita em ferro trabalhado seguras num muro mais alto ainda que servia de entrada e de venda dos lanches feitos pelos vendedores ambulantes: dona Maria, o Chicão..Nossa, impossível não lembrar! A campa tocava e nós entrávamos em fila com aquele tradicional uniforme branco de bordinhas azuis com a corujinha pintada num dos lados do peito e o brasão da escola mal feito parecido artesanal. Tudo naquele lugar marcou, mas nada chegou perto do que as aulas dela: a professora Benedita Saldanha. Quantas vezes não escrevi à caneta azul este nome no cabeçalho das provas de Língua Portuguesa. Aquela letra mal desenhada que ela sempre criticava nas correções pessoais. Por ela eu mudei a forma de escrever. Seus conselhos me fizeram, mesmo depois de grande, recorrer às linhas da caligrafia. Nossas terças-feiras eram sempre de muito conhecimento porque assistíamos as aulas dela. Lembro perfeitamente, a Benezinha entrava em sala depois do recreio, a gente na maior fuzarca e ela numa tranquilidade de dar inveja. A Bené respirava paz, nos ensinava sempre de voz baixa, sem muito esforço, parecia flutuar nas letras, dançar com as palavras, viajar nos textos. Minha professora preferida, me desculpe as outras que marcaram também, mas a Bené, foi o meu exemplo. Me ensinou coisas que a gramática nunca foi capaz de resolver. As suas aulas eram sempre de muito bom grado, conversas, conselhos que fizeram toda a diferença. A tia Benedita além de competente, era - é - muito inteligente, profissional acima de tudo, ética em todas as situações que presenciei e honesta nas melhores horas, nos melhores ensinamentos que deu sem recorrer aos livros. Garanto que além das regras gramaticais essa professora marcou pelas regras que nos ensinou pra vida. Boa mãe, excelente irmã, companheira fiel em suas amizades e professora excepcional. Marcou a professora Benezinha: pelo exemplo, pela qualidade de pessoa que é e pela grandeza que foi pra todos nós, os seus alunos que muitos, já na universidade, devem, sem dúvida, ter muito o que dizer sobre a sua entrega ao magistério, a sua dedicação aos ensinamentos das letras, o seu esforço na lida com as pessoas, a sua devoção como seguidora da igreja e seu caráter único, singular e merecedor de muitas homenagens pela pessoa que foi, pela educadora que é e por tudo que nos fez de bom e ainda nos faz. A mim que hoje sou professora de Língua Portuguesa também cabe muito amor e muita admiração. Não sei se ela lembra, mas o primeiro livro quem me deu foi ela: Lígia Fagundes Telles, contos para o vestibular. Me incentivou numa visita que fiz a sua casa muitos anos antes de vir à Belém e tentar a profissão. Tenho a relíquia até hoje e quando alguém me pergunta o que eu quero ser quando crescer, respondo, professora, igual a Benezinha lá do 47.
Sei que a luta é árdua, professora, o magistério, a licenciatura pouco nos dá retorno do esforço e dedicação, mas a você só a nossa mais profunda admiração, será a recompensa por tantos anos dedicados ao nosso futuro e muitos outros que com a sua ajuda, serão brilhantes, sem dúvida!
O senhor a abençoe!Que a paz esteja sempre contigo. Saúde minha mestra, sempre professora Benezinha – cheio de intimidade e muito respeito.

Gente que faz falta: DONA ROSA


Estamos, a partir de agora, lançando mais uma página no blog: PESSOAS QUE FAZEM FALTA. Uma série de textos serão expostos aqui a fim de relembrar algumas figuras que marcaram a história do lugar, mas que já se foram deixando boas e inesquecíveis lembranças. Gente que, de uma forma ou de outra, sempre será lembrada por muitos moradores desta pequena cidade de Santa Luzia por ter vivido e marcado o coração de muitos de nós que permanecemos por aqui e os lembraremos com o peito cheio de alegria e saudade. Pensei em tanta gente, mas vou começar por uma pessoa que invade meu coração sempre que passo na avenida Castelo Branco – a dona Rosa, senhora que vendia chop e laranjinha em sua casinha em madeira e que nos encantou e encheu de amor desde a melhor época: a infância. Como ela, muita gente nos deixou e partiu para os altos junto do Pai. Muita gente se foi muito cedo pra longe de nós e faz muita falta. Mas vou começar pela Dona Rosa porque devo muito a ela. Muitos sorrisos, muitas palavras e muitos, muitos ensinamentos que ela, sem saber, a mim direcionou.
Não tenho e não consegui uma foto sua mas seus traços perduram firmes na minha memória. Vivos, como se fossem retratados ainda com aqueles meus olhos de criança levada que entrava em sua casa pra comprar um saquinho de quick congelado e pudesse olhar aquela senhora corcunda de cabelos longos e brancos, de olhar leve, olhos brilhantes e calmos, claros, cor do céu. Aquela velhinha bem arrumada vestida com bata bem passada de flores em cores tranquilas e babados de renda e cambráia. Eu não esqueço o seu sorriso, a paz que ele me trazia, o jeito como pegava o dinheiro da minha mão, a forma como procurava dentro de uma cuíca de palha o troco em moedas de cobre. Dona Rosa, minha doce velhinha honesta que confiava em moleque danado, seu andado vagaroso, o jeito como encarava a gente e perguntava: “De quem tu é filho, meu doce?”. Dava o troco com a mão trêmula devido a idade, agradecia o freguês e dava benção até para os que não eram netos, como eu, que gostava quando ela me abençoava, aquela mão fina, o cheiro forte de colônia que se confundia com o perfume do leite de rosas. Ela me chamava de minha filha, eu ficava orgulhosa em ouvir aquilo apesar de saber que tratava a todos assim. Era bondosa demais pra fazer aquilo só com um. Era amável demais pra abençoar só a um. Não, a dona Rosa era gente pra deixar saudade mesmo. Pra fazer falta mesmo porque nos ensinou com a maior gentileza do mundo o respeito ao próximo, a confiança, a solidariedade, o amor. Era bem velhinha a Dona Rosa, mas marcou porque era a única por ali que vendia chops tão gostosos. A molecada não podia pegar em troco que corria pra sua casinha: um casebre de madeira que sempre estava com a porta encostada e a janela aberta, na frente da casa não havia placas sinalizando a venda porque não havia ninguém naquele lugar que não conhecesse o saboroso chop de quick de morango. Nossa, uma delícia. Naquela casinha que hoje nem existe mais pois foi demolida e agora abriga o mercadinho do Guilherme, nós chegávamos em gritaria pelo nome dela, a nossa vovozinha do chop delícia. Chamávamos por seu nome, mas da janela entreaberta conseguíamos, com um pouco de esforço, enxergá-la na salinha estreita, aos balanços na velha cadeira de ferro e cipós de plástico colorido. Ela nos mandava adentrar a casa, íamos até a geladeira e escolhíamos o chop predileto, dávamos o dinheiro da compra e ela abençoava a molecada e retribuía com um beijo na mão. Beijo de avó, carinho de mãe, amor de gente! Talvez ela não saiba, mas nos ensinou grandes lições quando confiava a nós a escolha do troco, a confiança de invadirmos a sua casa e a honestidade em nos deixar escolher o chop mesmo sabendo nós que ela mal enxergava direito. Confiou em cada um daqueles moleques que comigo, sem dúvida, sentem orgulho de ter tido o privilégio de tê-la por perto, nos dando a honra de sermos seus eternos netos e discípulos dos seus ensinamentos.

A dona Rosa é mãe do seu Mathias, avó do Zeca e de seus irmãos e primos. Mãe do inesquecível Antonio Augusto que já se foi também. Esteja em paz vozinha. Te amei muito, saiba!

"CRESCIMENTO"?


Fui ao 47 fazer algumas entrevistas e conversar com algumas pessoas sobre a realidade, os desafios e conquistas da cidade. Tinha a intenção de trazer boas notícias, de fazer algumas fotos e postar muitas novidades. Gostaria de ter feito mais, porém a fatalidade que assolou o peito de cada um de nós que esteve lá no carnaval me fez calar durante o final da semana inteiro. Engasguei diante de tantos fatos concluídos, emudeci perante tanta coisa que vi e senti ali, na cidade da minha infância. Violência. Tragédias. Falta de água. Política. Muita coisa está errada. Tenho vontade de gritar, pedir socorro, implorar ajuda, mas parece que tudo é em vão. A cidade cresceu e junto dela uma onda de péssimas imagens destroem a paz e a alegria nas ruas e avenidas do 47. Dei uma volta no Sítio do Padre pra fazer umas fotos e matar a saudade e fotografei o que a muito tempo parecia um pesadelo, um sonho de muito mau gosto é hoje, real: um invasão. Ali, aos arredores do bairro do 46, as casas surgem desorganizadas em ruas rasgadas de forma irregular sem qualquer tratamento de esgoto ou infra estrutura – as pessoas não têm saneamento básico naquele recém chegado bairro. Poços cavados no meio dos caminhos que dão aos barracos, luz elétrica irregular, crianças misturadas a porcos nas poças de lama. Famílias que se alojam sem descontrole por detrás do cemitério embaixo de casas de barro e cobertas com lona. Terrenos cercados com arame farpado. Casas em alvenaria e barrancos: uma favela. Fruto do crescimento, afirmam alguns. Crescer sem desenvolver, sem preparar é perigoso. Demais. A prefeitura tem que ter ordem e deve agir com seriedade. Favela, gera miséria e pobreza causa a violência gritante, nas grandes e pequenas cidades. Há que se ter um controle. Cidades que crescem de forma horizontal num processo de favelização geralmente têm seu contingente populacional na mesma proporção. Estamos crescendo em tamanho, em população, em número de habitantes e, consequentemente, em problemas também. Por isso essa violência instalada. Por isso problemas como assaltos, sequestros, assassinatos, arrombamento e roubos por toda a parte. A cidade “cresceu” e ficou a mercê da sorte e por conta da renda única do comércio e da prefeitura. Não se tem outra opção em Santa Luzia. Ou se é funcionário público ou se é comerciante. E isso é um absurdo. E essa leva de gente que chega por lá, como é que fica? E esse bando de forasteiro que chega e finca o pé numa invasão qualquer, vai viver de quê? Do vandalismo, é claro! Será que é difícil de se chegar a uma conclusão tão óbvia? A tendência é piorar. Ou se tomam decisões urgentíssimas ou a população de origem, que já estava, inclusive, acostumada com a paz no lugar, vai pagar o pato. Antes, até podíamos falar em outras opções como por exemplo a necessidade de mão de obra exigida pelas serrarias, mas com a crise no setor gerada pela maior fiscalização e a crescente agressão ao meio ambiente, esse ramo de trabalho na cidade já encontra resistência e declínio. A prefeitura sozinha não vai suportar e o comércio, tradicionalmente familiar, só emprega os seus. A tendência, portanto, é o caos social. Ou providências são tomadas ou no futuro, vamos ter que nos acostumar com a cerca elétrica, o alarme e os guardas noturnos. Sem contar que nossos filhos terão que se acostumar de vez aos vícios da modernidade, computadores, jogos e afins, pois daqui há algum tempo, ficar no terreiro ou em frente de casa, será muito perigoso, mas muito perigoso mesmo!

IMPRUDÊNCIA + CONIVÊNCIA = TRAGÉDIA

São chegados a mim e-mail’s e mensagens que pedem um postagem sobre os problemas enfrentados em Santa Luzia e que há anos são discutidos e há muito deveriam ter sido solucionados. Agora, com a morte chocante do menino Kayo, todos querem, de uma forma ou de outra, achar uma resposta pra mais essa fatalidade. Ataques ao poder público pela negligência e a falta de fiscalização nas normas e regras que conduzem o nosso direito de ir e vir - sejamos nós pedestres ou condutores, motociclistas, ciclistas ou motoristas particulares. Críticas aos irresponsáveis que, sem qualquer autorização, fincaram, no meio da movimentada rua, uma lombada irregular e mal elaborada do ponto de vista da sua engenharia. Pesares ao pequeno rapaz que dirigia irregularmente sem capacete ou mesmo habilitação mesmo porque, até pela idade, o direito não lhe foi dado. As pessoas querem um culpado: justiça! Quando o assunto envolve morte, e sobretudo uma morte precoce, como a desse menino, todos querem uma resposta. Quem será o réu? O pai que não barrou os mimos do filho? O prefeito pela péssima fiscalização? O garoto pela irresponsabilidade e empolgação? Os arquitetos que construíram e desenharam a lombada assassina? O dono da moto que cedeu ao amigo a chave do veículo sem se precaver se ele, o condutor, estava dentro dos parâmetros legais? A polícia que não fiscaliza os ilegais que fazem e acontecem nas ruas da cidade?Acho que nesse momento, de nada adiante especulações. Julgar e condenar qualquer pessoa que seja não vai trazer o menino de volta. Certo que todos nós ficamos estarrecidos e que muita, mas muita coisa, está errada na nossa cidade e que é preciso mobilização para um a mudança urgente. Mas desde muito cedo que o 47 deixa livre o trânsito para os menores infratores. Filhos de pais ricos que já aos 15 anos ganham uma moto ou um carro e o erguem como verdadeiros troféus aos amigos, igualmente empolgados. Pais que autorizam os filhos, ainda na adolescência, a saírem por aí motorizados exibindo o carrão do ano.Filhinhos de papai que só agora perceberam que todo carro ou moto é uma arma, uma arma que não aceita desaforo. A educação vem da família, a conversa e a conscientização devem sair primeiro do conselho dos pais. “Não faça isso, meu filho”, “Você é muito jovem ainda”, “Espera a maior idade, menino”. Papo furado de pais da antiga e que fazia toda a diferença quando respeitado. Garantir segurança aos filhos é um direito de pai que ama, que cuida e que sonho em ver o filho crescer. Educar para a vida é também educar para o trânsito, para o vício das drogas, o alcoolismo, o sexo precoce. Não estou querendo jogar a culpa pra cima do pai do garoto, o Edno, porque sei que ele, de fato, não se atentou ao fato, não por ser um pai displicente ou coisa parecida, mas porque na cidade já é tão comum a ilegalidade que a gente nem percebe mais o erro. É tanto jovem no volante de veículos que chega até ser piada querer que o filho espere a idade para a retirada da certeira de motorista. É tanta gente ilegal nas vias públicas do interior que chegar a fazer rir o pai querer exigir do filho o uso dos quites de segurança. Você que lê este texto agora, já imaginou passar pela avenida Castelo Branco em Santa Luzia e ver um desses meninos de capacete e joelheiras? Não, né? Pois é seria o maior vexame. O menino teria trauma, surtos psicológicos. Ora se nem mototaxista no 47 usa capacete. Taxista não usa cinto. As ruas não têm mãos duplas nem preferencial. A avenida Castelo Branco, por exemplo, legalmente até onde eu entendo de trânsito e tráfego deveria ter uma mão pra ir outra para voltar, mas...sem comentários! A coisa é tão caótica que quando eu chego à cidade, não uso cinto. Aqui em Belém é entrar no carro e, antes mesmo de ligar o motor, cinto de segurança pra não levar multa. Lá, esqueço a lei...ou melhor lembro da lei do vale tudo! Ali, vale o carro maior e como o meu é uma Eco Sport, o resto que se dane. É assim que fomos acostumados a pensar. “Estamos no 47, cinto pra quê?”. Irregularidade. Irresponsabilidade. Velocidade. Bebida. Direção. Mistura que, segundo a propaganda causa morte, acidente, imprudência e muito, muito risco a segurança de todos, mas nós, os luzienses parece, estamos nem aí para os índices e números da violência no trânsito. Li no jornal que neste feriado de carnaval tivemos 38 mortes, entre acidentes, latrocínios e genocídios...39, eu pensei, lembrando do menino Kayo. Em Santa Luzia, a cidade parou em luto pela morte do garoto, no resto do estado a folia continuou como se nada tivesse acontecido. Talvez o problema esteja ai, nesse único minuto de silêncio que fazemos no abaixar de um caixão para a cova. Depois do enterro, a vida continua, como se nada tivesse acontecido. Ainda hoje, se eu voltar ao 47 vou ver muitos meninos e meninas na garupa ou no volante de uma moto. Penso que a única mudança mesmo será a retirada da lombada. E, ainda que a prefeitura exija o capacete, esses mesmos meninos continuarão andando por lá com um pneu só fazendo malabarismos em cima de um motor, sem habilitação e em alta velocidade. Enquanto isso não mudar, nem o DETRAN indo em fiscalização vai impedir tragédias como estas. Porque os agentes raspam e punem por um dia, no outro, tudo volta ao normal somado a conivência dos pais. INFELIZMENTE!

17 de fevereiro de 2010

Os céus agradecem!!!!


Estive pensando que, enquanto aqui na terra a tristeza invade o coração dos amigos e familiares que recentemente perderam um dos seus mais queridos integrantes da folia e da alegria,no céu as coisas andam muito bem obrigado. Temos gente nova por lá e que vai fazer uma diferença e tanto. Acabou de chegar aos olhos de Deus o menino Kayo, mais novo folião do Bloco do Céu, que já conta com a participação mais que ilustre dos amigos Jamilson e Kley. Nossa, mãe, esse carnaval será mesmo um dos melhores por lá!

Aos que agora convivem com os sorrisos e brincadeiras dos três jovens divertidíssimos que perdemos aqui, resta a nós aquela inveja tremenda. Depois de tudo o que eles aprontaram em Santa Luzia e da enorme tristeza que invade o nosso coração, tenho certeza que o céu está muito, mas MUITO MAIS FELIZ!

Adeus Kayo. Vai em paz, amigo!


Cheguei de Santa Luzia ainda a pouco com o coração em luto. O peito carregado de angústia e uma sensação horrível de desconsolo. Estive no 1º CarnaNega, na casa da minha amiga Neguinha da Gorety. Cheguei ao 47 com aquela alegria de que o carnaluziense seria um dos melhores. O salão da casa dela estava lindo e arrumado a espera dos convidados - amigos, gente que convive conosco desde muito tempo e que junto de nós viveram as mais inenarráveis histórias. Caixas e caixas de cervejas esperavam pelos brincantes desta folia de 2010. Tudo prometia. A noite estava linda e a decoração transbordava alegria por todo o ambiente. Sentei à mesa e todos estavam felizes pulando as marchinhas de carnaval, aquelas antigas, mas que ainda fazem muito sucesso nos dias de folia. Conversei com um monte de gente, bati fotos com quase todas as mesas pra poder postar no blog e vi quando os gêmeos chegaram: juntos, rindo pra todo mundo, brincando e dançando também. “Vou bater uma foto com eles”, eu pensei. Mas o tempo foi muito curto e, em segundos, eles já não estavam mais lá. Ninguém sabia, mas um deles sairia daquela festa e não voltaria nunca mais. A vida, sabe Deus porque, pega a gente de surpresa e, em alguns minutos depois, soubemos da queda de moto que alguém na rua havia sofrido. No interior tudo é motivo de pânico e a festa esvaziou com a notícia do acidente, mas as pessoas que voltavam de lá diziam o que nós queríamos ouvir, que não era nada de grave e a folia continuou. A noite passou em horas e o dia amanheceu nublado aquele domingo. Algo de muito estranho pairava no ar. Fomos à tarde seguir o bloco atrás de um trio elétrico e tudo estava muito empolgante quando a tragédia foi confirmada: “O Kaio morreu!” Como? Todos ficaram estarrecidos. A cidade parou o trio emudeceu . O axé baiano, o funk carioca, o forró nordestino e o brega paraense se renderam à notícia daquela tragédia. Uma queda de moto, um baque forte na cabeça e o menino de apenas 17 anos e um sorriso de dar inveja estampado no rosto saiu de cena pra brilhar em outros carnavais. Impossível não se comover. Improvável não se render ao choro diante dos fatos. Como não pensar nos pais? Nos amigos? Na mãe? No irmão gêmeo que precocemente perdeu seu par, seu amigo, seu companheiro? Depois da morte, como esquecer da vida tão cheia de sonhos de um garoto maroto, brincalhão e empolgante que fez história nos corredores não só das folias de carnavais mas também nas ruas e praças do 47? Será triste viver sem ele porque fica no irmão idêntico a maior lembrança. A cada vez que vermos o Kaik daqui pra frente sentiremos que algo está faltando. E, por enquanto, será difícil sorrir, pular o carnaval porque perdemos o nosso pierrot. Perdemos um amigo, uma pessoa que fazia a gente feliz. Com a morte do Kaio, o carnaval perdeu a cor. A vida por enquanto perdeu o sentido para os que conviveram com o seu jeito moleque e divertido de ser. E, hoje, a minha sensação é que não vencemos o tempo. O ser humano é impotente diante deste vilão que nos arrasta em segundo ao desespero de não entender e não codificar os seus sinais. Por isso todos na pequena cidade se sentem culpados, uns por não terem ido junto na garupa daquela moto e talvez impedido a queda, outro por ter emprestado a chave ao menino, outros por não terem impedido que ele saísse da festa, outro, como o pai, por não estar por perto e protegido o filho, o irmão por ter ficado e o deixado ir...Mas de fato, ninguém tem culpa.. a não ser o tempo, esse relógio que faz correr a vida e que não sabemos por quais motivos tirou o Kaio de nós cedo demais, antes que outras belas histórias ele tivesse vivido, antes mesmo de pular o carnaval festa da qual era personagem principal. Ninguém tem culpa, nem ele porque se soubesse, se imaginasse o perigo pensaria duas vezes. O tempo é o culpado dessa fatalidade. E como diz o Renato Russo numa de suas canções: “É tão estranho, os bons morrem jovens, assim parece ser quando eu me lembro de você que acabou indo embora cedo demais”. Com a morte do Kaio é essa a sensação que vai ficar na gente. E, além disso, a certeza de que ele era um bom menino, um excelente amigo, um ótimo filho e um irmão muito legal. Vai com Deus, amore. Você, temos certeza, era uma pessoa especial, tanto que no boletim médico expedido pelo hospital temos o laudo: morte cerebral. O cérebro parou, mas o coração, por horas, reagiu e seguiu batendo, numa resistência de quem se mostrou insatisfeito em morrer, mas deixando a todos nós a certeza de que muitos outros carnavais virão e muitas boas lembranças ficarão. O Tum Tum Tum dos tambores e tamborins da folia foram substituídos por você, menino Kaio, pelo pulsar do seu coração. Batimento cardíaco que resiste pralembrar aos que ficam que a vida...A VIDA CONTINUA!

Vai em paz, amigo! Durma com os anjos e roga por teu pai que está necessitando de muita força nesse momento. Guardaremos boas lembranças, moleque. Não te esqueceremos seu menino levado, seu pestinha sapeca. Voe, anjo, e reza por nós!Força Edno. E paz, em Santa Luzia...Olhái por este teu filho, minha santinha.E que o Senhor esteja conosco!

16 de fevereiro de 2010

CARNALUZIENSE...

Estávamos nos preparando para a segunda-feira de carnaval em Santa Luzia pra curtir a programção da Prefeitura Municipal, é ela que organiza o CARNALUZIENSE, a festa popular que há anos vem sendo reformulada para festejar os dias de folia na cidade. A programação da festa estava prometendo e nós estávamos muito animadas para curtirmos esse momento com a galera de Santa Luzia, mas com a morte do Kayo, tivemos que pegar a estrada mais cedo. Voltamos pra Belém antes do tempo porque perdemos o clima de festejo e aí, resolvemos parar em vigia pra tentar aproveitar o resto do dia.




Nas fotos, eu e as meninas com o abadá do CARNALUZIENSE dado a nós de presente pelo casal Gedson e Aíla e pelos amores, Francisca e França, o vereador da cidade!


Muito bacana. Pena que não conseguimos aproveitar a festa lá no 47!

CARNALUZIENSE: FESTA E MUITA EMOÇÃO!






Estivemos em Santa Luzia este carnaval. Muito bem organizada a festa por lá.É muito bom estar na minha cidade! Vi muita gente e reencontrei velhos e bons amigos da infância. O carnaluziense era uma festa que tinha tudo pra marcar a história dos nossos carnavais mas acabou mais cedo.A morte do Kayo, filho de uma das pessoas mais bem quistas no 47 calou a cidade inteira. Incrível como o povo do interior é solícito com a dor do outro. Impressionante como as pessoas não tiveram mais fôlego pra dançar na folia, depois do ocorrido. Cenas que ficarão na minha memória pra sempre: o bloco calado e os brincantes chorando vestidos com abadás suados com o pula pula da música que agora, ali, se confundia com lágrimas derramadas por pura tristeza. Nenhum lugar é como Santa Luzia que parou o axé pra rezar a ave Maria, que deixou o forró dos namorados agarrados para o segurar da mão em meio a uma oração emocionante que paralisou o corredor da folia. Era domingo, estávamos no primeiro bloco a desfilar nas ruas da cidade, o bloco do Jacaré, fizemos o percurso na maior folia e quando o trio chegou aos seu destino final, a noticia estatizou todos os que estavam por lá. IMPRESSIONANTE. Pessoas choravam em desespero a morte do menino. Amigos aos prantos e abraços comoviam e faziam chorar os bêbados e moradores na porta das casas. INESQUECÍVEL! Estou emocionada até agora. Sem palavras pra descrever o que eu senti ali enquanto observava tudo ao meu redor! Minutos depois alguém subiu no trio pra dar a notícia vinda de Belém pelo pai do menino, o Édno: o filho ainda não havia morrido, sofrera uma parada cardíaca e estava na UTI, desacordado, mas vivo. O POVO todo caiu novamente na folia. EMPOLGADOS, os meninos choravam de felicidade. A banda cantava emocionada e algumas músicas mal saíam direito da voz da vocalista. Um misto de alegria e tristeza invadiu a avenida Castelo Branco e me mostrou um das cenas mais bonitas de solidariedade que alguém pode demonstrar por uma outra pessoa. Fotografei o momento com o coração apertado e cheio de orgulho daquele povo que é meu também. A minha cidade, linda festejando o seu carnaval com a maior emoção que podia. MARCOU esse carnaval de 2010. LINDA demonstração de amor. O Kayo morreu nesta terça-feira, foi o que confirmou a tragédia. Parecia que ele sabia que não podia estragar o carnaval dos seus amigos que lá estavam. Mal sabia ele que depois de confirmada a morte cerebral o povo de lá já não conseguia mais entrar e nem cair na folia.

Deus te abençoe, querido!

CARNANEGA...ANTES E DEPOIS!!!





Registrei a folia toda lá na casa da Nega. Vejam como ficou a casa na preparação da folia e depois que tudo passou: 6:30h. A galera amanheceu e devastou tudo o que viu pela frente. IMPRESSIONANTE!

1º CARNANEGA...UMA DELÍCIA!!!!






Bom, mas a folia do Carnaluziense também teve os seus dias de felicidade: sábado e domingo, foram os dias em que nós pudemos curtir o carnaval com o peito cheio de muita alegria e muita vontade de fazer aquela festa que só nós, lá no 47, sabemos.
No sábado, tivemos o 1º CARNANEGA lá na residência da minha amiga Neguinha e foi TUDO DE BOM PONTO COM.Muitos amigos estavam por lá e muita cachaça esperava a gente pra mais um ano de sacanagem e boa conversa. A Nega caprichou na decoração, nas comilanças e também na seleção das músicas que agitaram o folia durante toda a noite e varou a madrugada rasgando o dia.

MUITO BOM. MUITO BOM MESMO. Em 2011, estaremos por lá!

Valeu, Nega!

JACARÉ...ÔBA!!!!!






Dois anos de tradição no Bloco dos "DESERDADOS" e nesse carnaval de 2010 eu traí a camisa indo pra folia no bloco do "JACARÉ", o mais novo grupo de foliões da cidade.TUDO DE BOM PONTO COM. A galera de Santa Luzia não tem noção da brincadeira: comprávamos um abadá e ganhamos 12 ticts de cerveja. Meu DEUS, quase tivemos um coma alcoólico. É muita cachaça pra pouca gente! Fomos num grupo de dez pessoas: eu, a May, a Mary, a Lohana, a Nega, o Domingos e um amigo dele aqui da Capital, a Suylma e o seu esposo e o Neto, filho da Nega. Pensa! 120 latas de cerveja. É um absurdo. Tomamos banho de schin. NOSSA, muito CHIC!!!

AMIGOS...reencontro de carnaval!!!






Não vou negar que fui atrás de folia lá no 47, mas estive lá também pelos amigos que eu só encontro nessa época de feriado. E, como todo ano, esse não foi diferente, muita gente esteve por lá aproveitando as férias pra curtir um pouco do sossego da Cidade Morena que é uma lindeza e um excelente lugar pra esquecer de vez o stress das grandes Capitais.