26 de janeiro de 2010
PERSONALIDADE LUZIENSE: LOURIVAL FERNANDES, O LOURO
Estive assistindo ao filme “Lula, o filho do Brasil”. Uma biografia do Presidente da república. Desilusões à parte. Críticas contrárias ou não. Influências partidárias e ideológicas, eu não sei. Só confirmo que o filme me emocionou - a mim que já estava tão desiludida com a figura do presidente. Político que eu nasci admirando e que, de certa forma, ilustrou toda a minha juventude regada de utopias, desejos e vontades. Carreguei durante anos a estrela do PT num broche no peito. Fui militante numa época em que a juventude pedia um basta para a falta de respeito na política brasileira. Vesti o vermelho, chorei na campanha do Edmilson Rodrigues quando ganhamos as eleições na capital. Meu coração se enchia de emoção nas carreatas em direção à Praça da República ao som da voz inconfundível da Fafá de Belém: “A cor do meu batuque tem o som e a expressão da minha voz, vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhão”. Hoje, falar do PT já não me traz as mesmas lembranças. A estrela não enfeita mais a minha camiseta branca e a boina foi substituída de vez. Com o tempo e os acontecimentos fui aprendendo a amar a política da mesma forma com a qual acredito em religião: não sou católica, adventista, protestante, espírita ou budista. Acredito em Deus. Não sou petista, peemedebista, democrata, tucano: acredito em pessoas. Não é o partido que eu apoio. Voto naquele que convence pelo histórico, pela luta e pelas boas obras - talvez por isso nunca tenha votado no Jader.
O filme é um sucesso, agrada até aos que nunca votaram no presidente. A história é um tsunami de muita emoção, tristeza, velórios e choro. Mas o Lula é um vitorioso também. É admirado também. É cidadão antes de ter sido operário. É trabalhador antes de ser petista. É Luiz Inácio antes de ter sido o Lula. E, assistindo ao filme, lembrei do Louro. Lourival Fernandes. O atual prefeito de Santa Luzia. O Louro é o nosso Lula Luziense. Homem de origens humildes. Lutas políticas. Fracassos e vitórias históricas. Ele é a nossa personalidade de hoje. O nosso homenageado do Blog. Escrever sobre o Louro é uma ousadia. Por ser ele o prefeito diante de tantas criticas e tentativas de processos. Sua história, assim como a do presidente, daria um lindo filme. O Nosso Lula, o prefeito, também teve uma vida de desilusões. Filho de gente carente, nascido no interior, trabalhou desde muito cedo e, ainda quando morava na pequena Vila Fátima, no município de Bragança, mesmo com as adversidade e dificuldades, sonhava alto. Jovem e audacioso, era tímido para a política mas um touro para o trabalho. Motorista de ônibus, angariou parceiros na vida, fez amigos e se tornou conhecido naquela região. No interior de Santa Luzia, antes mesmo que ela fosse cidade, todos já conheciam aquela figura, afinal o ônibus do Louro era o único que fazia linha para a brenhas de lá, o rapaz já era casado quando, ainda de madrugada, enfrentava os péssimos ramais de piçarra e barro para conduzir os caboclos até o 47, onde acontecia a feira, ou Capanema, onde os ruralistas podiam fazer as compras que em Santa Luzia não havia, além do saque bancário, o tráfego de mercadorias, as consultas médicas e até mesmo as criações. Papai era comerciante na Vila, o responsável pelo jogo da quina, como era chamada a mega sena, as pessoas no 47 marcavam o jogo e ele levava as apostas para Capanema onde elas eram computadas para serem enfim devolvidas para os apostadores. Por isso, íamos toda semana para lá, e também por isso, conhecíamos o Seu Louro. Lembro de cada uma das cenas que marcavam aquela viagem: gente de pé espremida sob paneiros de verduras e sacos de farinha; galinhas e pintos dentro das caixas furadas amarradas com barbantes; latas de açaí; porco gritando no bagageiro; criança chorando; molecada vomitando...era uma aventura. O ônibus ía pesado e por isso, mal conseguia correr. Assim, um trajeto feito em vinte minutos normalmente, levava uma hora e meia para ser feito no buzão do Louro. Lembro do cobrador, ele passava por sobre a gente se segurando na barra de ferro pra chegar ao passageiro, o cartão de passagem, azul em letras xerocadas, que ele destacava e dava a nós o canhoto, a maneira como ele enrolava e segurava o dinheiro, as notas dobradas ao meio no sentido vertical e pressas entre os dedos. Inesquecível. Seu Louro, o motorista fazia parada em todo canto bastasse que tivesse gente dando sinal, era comum, as pessoas ficavam na beira da BR esperando o ônibus passar, com bagagens e sacos de mercadorias. Fazia um calor infernal mas era divertido. Lembro da angústia que era quando ele fazia a entrada no Muruteua pra deixar passageiro, o povo reclamando: “Ainda vai entrar aí?”. Muito engraçado. Ir à Capanema era esse sufoco, imagina a viagem à Bragança, sim, porque o ônibus do Seu Louro só tinha permissão de trafegar por dentro, ou seja pelo interior, as desobrigas, por fora era linha da Boa Esperança que fazia. Ir pra Bragança então, era um verdadeiro martírio. E, acreditem, ainda que fosse um calvário, o povoado tinha a sua preferência, acho que pelo valor da passagem. Assim, entre idas e vindas, o Lourival Fernandes, que já era morador de Santa Luzia, passou a ser conhecido em tudo quanto é de lugarejo nas bandas de lá. Se tornou pessoa conhecida. Jovem, moço, rapaz, senhor, pai de família, fiel aos filhos e à esposa, quis ser militante. Ganhou gosto pela oposição. Talvez pelas amizades que fez: Edson Martins, Lucia Machado, Jorge Cirino, Ganzer dentre outros. Talvez pelos buracos e ramais que teve que enfrentar na sua labuta: estradas caóticas, lugarejos miseráveis, ramais intrafegáveis. Talvez pelo olhar que vinha daquele povo sofrido que entrava no ônibus pedindo pra ser conduzido. Gente humilde, honesta, trabalhadora que durante a viagem desrespeitava a placa de “Não converse com o motorista” e desabafava sobre as suas dificuldades. Talvez por isso, assim que a Vila deixou de pertencer aos ditames do município de Ourém, o Louro confirmou seu nome na chapa petista. E, foi assim também, que como o presidente, o nosso prefeito amargou muitas derrotas. Desde a primeira eleição para o recém criado município ele era o nome que acompanhava a estrela vermelha nas boinas e camisetas dos jovens da oposição. Foi pelo Louro que muitos dos jovens de Santa Luzia abriram a boca pra gritar às claras a corrupção já existente desde a época e que estávamos atrelados à Ourém. Foi por ele que outros meninos já tidos como comunistas ergueram a bandeira vermelha segura num cabo de vassoura. Foi pelo sonho do Louro que mal expressava as suas vontades que aprendemos a falar as nossas. Ele foi o nosso Lula. Hoje é o nosso prefeito. E por mais que se diga ou que se negue as suas origens exacerbadas, por mais que se critique o seu desempenho como administrador, não podemos deixar de admirar a sua coragem. A sua persistência. A sua insistência e, sobre tudo, a sua Humildade. O Louro é pessoa que marcou a história desse lugar e, ainda que muitos neguem, ele entrou pra memória do município. Seu nome estará sempre lá nas entrelinhas dos que no futuro poderão ler e saber sobre as nossas origens. Foi o primeiro prefeito eleito pela oposição. Foi o primeiro petista a conseguir a reeleição. Conseguiu um feito, marcou a história das eleições, fincou um recorde quando confirmou os seus míseros 69 votos de diferenças contra a chapa dos concorrentes. Deu no que falar esse Louro.
Dia desses eu estive em sua casa e ele me recebeu com a mesma humildade de sempre. Sentei à sua mesa, conversei com a dona Maria, a sua esposa. “Mas a casa está do mesmo jeito seu Louro”, reclamei. “É porque o dinheiro que estou roubando é tanto, mais tanto, que nem dá pra construir uma mansão”, ele brincou. A gente riu. Eu entendi. Na cidade, as críticas apontam desvio de dinheiro público, na internet sites mostram mau uso da máquina pública, no tribunal eleitoral ainda restam processos que exigem o seu afastamento por compra e venda de votos. Tudo ainda muito obscuro. Pouca coisa comprovada. O prefeito não foi cassado como muitos diziam que seria e ele afirma que os pagamentos dos funcionários estão em dia. Não sou advogada pra julgar os fatos por outros olhos, não tenho visão legal e por isso enxergo as coisas de uma outra forma. Só sei que fui ao 47 no mês de dezembro todo e a cidade estava agitadíssima. Festa de rodeio, vaquejada, exposição, arraial, aniversário da cidade, show na praça. Sei que o Canto da Terra está de volta e com a corda toda, a feira está mais bonita e organizada, as obras dos canteiros da cidade estão trazendo ao município um ar de modernidade, as ruas estão asfaltadas, concursos foram feitos...Mas existe muita coisa por fazer ainda. A pobreza está se estendendo, há favelas no 47, invasões, muita violência e muita fome. Desemprego e insatisfação. Conversei com o Louro, ele está ciente, não nega as falhas, achei legal isso, disse que, às vezes, fica sem saber o que fazer é isso é normal. Ele não nasceu prefeito. Colocou seu nome a disposição do povo e o povo decidiu por isso. Como escrevi no início do texto, o Louro é motorista. Está prefeito e não será pra sempre. Se ele é incompetente, aqueles que o escolheram para o cargo também o são porque não souberam fazer a escolha certa. E não digam que foi por falta de opção porque em se tratando de eleição sempre há uma segunda opção, as urnas e formulários comprovam isso. Não votei no Louro e ele sabe disso, nas últimas eleições minha família fez oposição contra a sua chapa, meu irmão que foi eleito vereador era do lado contrário. Levantei o azul da última vez. Tenho fotos que confirmam, mas não voto no 47 há duas eleições. Porém sei discernir a política do pessoal. O Louro é um grande homem. Sua história e digna e seu histórico é admirável. Esteve em minha casa e pediu desculpas ao meu pai por, de certa forma, ter decepcionado porque afirmou ter respeito pelo seu Feliciano. Santa Luzia está crescendo, agora que fez a maioridade, 18 anos de emancipação e é normal que os problemas existam. Belém tem quase 400 anos de idade e tem passado maus bocados com a falta de saneamento, problemas como a fome e a violência. Não que por isso perdoaremos o prefeito por seus pecados, não. É nosso DIREITO exigir, é DEVER dele fazer o melhor possível. E, se não estamos satisfeitos, existem meios para fazer valer a lei e os processos estão correndo. A Justiça está à par da situação, os vereadores estão aí pra isso também. Mas não confundamos o Lourival Fernandes com o Prefeito Municipal. Se ele precisar perder o cargo, lembrem-se, ele continuará sendo o Louro, assim como o Nato continua sendo o Nato. A história será escrita de uma outra forma, mas jamais, jamais eu repito, será apagada, pois antes dessa, muitas outras páginas já haviam sido escritas antes.
E você pode ou não concordar comigo. É isso que nós chamamos de personalidade. Fique a vontade!
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