30 de janeiro de 2010

AI, MEU DEUS!!!


Fiquei um pouco sozinha hoje por conta de um horário vago na Unidade da Alcindo Cacela e estive pensando que às vezes é necessário tempo para fazer algumas análises. Analisar o que andamos fazendo de bom e de ruim, de certo ou errado. Lembrei do dever que é ser mãe e da falta de tempo que me impede de ter sido uma genitora, assim, com tanto afinco. Minha filha tem onze anos e eu pouco convivi com os seus problemas. O pouco de tempo que me resta passamos no shopping, num igarapé, numa lanchonete ou mesmo fazendo algumas viagens. Risos, passeios e dinheiro não significam tempo. Só agora eu percebi. É preciso tempo pra falar. É preciso espaço pra conversar. Afago e carinho pra desabafar. Fico com ela o tempo que tenho mas não conversamos ainda. Sei que ela já está mudando pelo jeito como tem se comportado, pelas coisas que hoje trazemos do supermercado e pela quantidade de shampoos que temos no banheiro. Dia desses no Formosa, ela me convidou para irmos até a prateleira onde encontramos absorvente e eu fiquei assustada: “Mas minha filha, pra que absorvente?”. “Mãe, eu já tenho onze anos, logo logo vou virar mocinha!”. Eu não soube o que dizer mas tomei uma coca cola de 600ml num gole só. Fiquei engasgada. Quase me afoguei naquele líquido preto e gelado. Outro dia, na Big Bem, enquanto comprávamos pra ela um celular com Mp3, touchscreen, Bluetooth, rádio FM, câmera digital e memória interna – vejam só – ela me convenceu que precisava de um estojo de maquiagem. Fiquei completamente sem reação diante daquele batom cremoso e com o blouch que nem eu sei pra quê que serve. Não muitos dias, ela me pediu pra comprar um prestobarba da Gilletti, o depilador, eu me recusei, neguei o pedido, fingi que não tinha ouvido e ergui a cabeça seguindo em frente. E ela me pegou de jeito mais uma vez: estávamos no sofá assistindo à novela Viver a vida quando ela disse: “Ficou firmeichon, a minha perna!”. Eu olhei e ela havia cortado os pelos com a tesoura. Arregalei os olhos, encarei a Mayara muda e engoli saliva até me acalmar. No domingo, na comemoração do seu aniversário, ela chorou pedindo um roupão de presente. “Pra que roupão, minha filha, já estás inventando coisa!”. “Eu preciso cobrir o meu corpo dos olhos desses homens tarados, mãe!”, ela retrucou. Estou perplexa. Minha filha cresceu. Não usa mais aqueles sapatos da Xuxa que vem com brinde, não quer mais camiseta com estampas da Pucca nem da Hello Kitt, tem um Orkut, criou um MSN, é fã da Beyonce e da Rihanna, usa desodorante rolon, se recusou a assistir ‘Xuxa e o mistério da feiurinha”, achou uma droga Avatar, adora i-Carli, e só quer dormir depois das dez. Lembro do dia em que fomos à Feira do Livro. Nos anos anteriores a 2009, ela ganhava 50 reais e saía feliz da vida para comprar revistinhas em quadrinhos, voltava cheia de treco e revista, com troco e toda satisfeita. Este ano, ela saiu devagar por entre os stands, voltou sem nenhum livro dizendo que 50 reais era pouco e que a feira não estava lá essa coca cola. Dei mais dez reais e ela voltou sem muitos comentários. Depois de meia hora chegou com uma única sacola onde guardava os três livros comprados: “Fala sério, mãe!”, “Contar, apontar, CRESCER!” e “Papos que rolam nos blogs”, eram os títulos dos livros. Quase que eu caio. Me faltou fôlego e ar. Ali, enquanto encostava numa coluna da SOMENSI, eu senti pela primeira vez que eu iria sofrer as conseqüências de ter tido uma filha e como seriam os meus dias com uma adolescente em casa. Ela cresceu. Está grande e agora as revistinhas e almanaques só os da Monica Jovem. Estou surpresa. Paralisada. Ela está mocinha e os presentes do aniversário me mostraram isso, de todos os embrulhos, nenhum brinquedo se atreveu a vir. Não é a toa que este ano ela me pediu que o niver fosse comemorado num clube e que ela mesma faria a lista de convidados e que “pelo amor de Deus” eu não fizesse ela passar vergonha diante da turma da escola. Um domingo desses aí ela me pegou na bucha: “Mãe, quero dinheiro pro corte da cabeleira, vou mandar fazer um franjão!”. Meu mundo caiu! Fomos fazer a lista de material escolar e ela se recusou a trazer tinta guache. “Mãe, alôô!”. Eu achei bonita a camiseta na vitrine: “Linda, Karen, aquela roxa”, “Lilás, mâe, lilás!”. Chamei a atenção para a maquiagem transparente de areia brilhante e ela: “Gliter mãe, gliter! “Olha, minha filha, aquela blusa tomara que caia!” “Bore, mãe, aquilo é um bore!”. Ai, Meu Jesus Cristinho. Eu quero morrer! Estou entrando em pânico com esse negócio de modernidade e adolescência. Uma noite dessas sonhei com a Karem chegando e trazendo pelo braço aquele coleguinha da escola, um menino magrelo, com a calça lá embaixo, o cós da cueca box aparecendo, o cinto fora do lugar, meio caído por cima da calça com a fivela de lado, camiseta com estampa de uma caveira ou um grupo de roqueiro, pulseiras de couro entrançado, tatuagem de uma fênix no braço direito, uns pircens de aço no nariz, na orelha e nos lábios, sobrancelha tirada a pince e o cabelo literalmente arrepiado, repicado e com muito gel...os dois sorrindo e ela dizendo: “Meu amigo, mãe!”, e ele pulando e rindo olhando para trás: “Valeu, sogrona!”. Eu mesma me mordi e acordei à força. Até num sonho eu queria morrer. Minha filha cresceu e vai deixar de brincar com a sua coleção de barbies e eu, acho mesmo que, daqui a mais uns anos, eu vou recorrer a uma ponte de safena! kkkkk

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