24 de janeiro de 2010
O QUE MUDOU e O QUE PRECISA MUDAR EM SANTA LUZIA? O RIO CURÍ
Na postagem de hoje, subscrevo um parágrafo do histórico da cidade de Santa Luzia do Pará, disponível no Portal Amazônia e que descreve a realidade hidrográfica desse município e que foi transcrito por mim aqui na página anterior:
“ O principal destaque é definido pelo rio Caeté, com início da foz do Rio Grande, até a foz do Rio Curi, e por este até a sua nascente, e daí seguindo em linha reta até o Igarapé Jeju, seguindo-se o curso até sua foz no rio Peritoró, indo por este até sua nascente e daí pelo paralelo do sentido oeste até encontrar o divisor aquário dos Rios Guamá e Piriá, seguindo pelo divisor até a nascente do rio Taurari, seguindo-lhe até sua foz no Rio Guamá, indo por este até a foz do igarapé Tininga, acompanhando-o até sua nascente e daí, em linha reta, até encontrar o igarapé Arioré com a Quarta travessa, seguindo por este igarapé até a foz do igarapé Furacão, subindo-lhe o curso até sua nascente e deste ponto vai em linha reta até a foz do Rio Grande, ponto inicial”.
Não há quem fale no 47 e pense nos rios e igarapés que marcaram tempos e vidas sem lembrar do RIO CURÍ. O rio dos bons tempos, o rio das grandes infâncias, dos inesquecíveis momentos, das brincadeiras da criançada. Falar no RIO CURÍ é obrigar o coração a sentir saudade. Saudade da época em que, em dias de chuva, a garotada perdia tempo nas biqueiras que jorravam água dos telhados. Saudade do tempo em que as valas cheias de água barrenta eram o passatempo predileto da meninada luziense. Saudade dos tempos em que a garotada escorregava nos pátios com o bucho deslizando no chão ensaboado de OMO. Saudade daquele medo terrível de corisco, raio perigoso que vinha do céu e matava menino de choque elétrico. Saudades, muitas saudades, das turmas de amigos descendo a ladeira de braços abertos preparadas para o pulo da ponte, o mergulho indescritível no RIO CURÍ. Aquele rio foi paisagem de muitas historias, foi cenário de muitos sorrisos e brincadeiras, foi tábua de lavar pra muitas famílias, mulheres que se encontravam às suas margens para a lavagem das trouxas de roupa suja. A molecada traquina nadando de um lado para o outro. A mulherada gritando para os menores tomarem cuidado com os perigos do rio. Naquela época, tínhamos um igarapé, ali, bem pertinho de nós, no nosso quintal, bastasse que a mãe deixasse e nós corríamos pra lá. Lembro pouco dessa época mas sei que mergulhar nas águas daquele rio foi uma experiência indescritível. Lembro dele com um aperto no coração pois sei que ele viveu dentro de cada um de nós que morava ali quando ele era um rio vistoso, fundo, cheio, e lindo. Passava por lá sempre que íamos no sitio da dona Fátima, a esposa do seu Sebastião Lopes, que era compadre da mamãe. Passávamos pela ponte e, às vezes, de tão cheio que estava o rio, precisávamos tirar os sapatos e arregaçar as calças. Havia cobras por lá e peixe também. Muita gente jogava o anzol da ponte e ficava por ali esperando a recompensa. O CURÍ era um rio vivo e dava vida também aos nossos sonhos e fantasias.
Fico triste em constatar que aquele rio, o RIO CURÍ, morreu. Lembro das incontáveis tentativas para salvá-lo da infeliz realidade de hoje. Confesso que sempre que ouvia sobre o seu futuro catastrófico eu nem imaginava que chegasse ao ponto que hoje testemunho. Era inacreditável pra mim crer que um rio tão grande pudesse sumir do mapa. Eu pensei que era conversa fiada, coisa de ambientalista e agora, indignada, vejo que as previsões eram reais. Aquele rio no qual eu mergulhei e de tão fundo eu nem ousava sair da beira é hoje uma vala no meio do velho ramal. Aquela ponte de onde pulávamos, é madeira encalhada num porto que já não existe mais. E aos que não viveram a minha infância ele é apenas um texto que hoje eu escrevo.
A extinção do RIO CURÍ. A sua morte precoce e quase que já decretada é uma mudança que eu reprovo no nosso município. Se há algo ainda a ser feito. Se existe ainda bom senso e um mínimo de amor que seja, ao verde e ao meio ambiente ,que alguém lembre do RIO CURÍ. Tragam ele de volta à vida e devolva a nossa existência o prazer de vê-lo novamente trazendo água o suficiente para muitos outros mergulhos que os nossos filhos desejam dar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário