21 de abril de 2010

PERSONALIDADE LUZIENSE: NATO COSTA


Esse texto de hoje não será igual a nenhum daqueles que eu já postei sobre uma PERSONALIDADE LUZIENSE. Mesmo porque, você pode está pensando, ninguém é igual a ninguém, mas não é por isso não. É por que para produzir este texto de hoje eu precisei muito mais do que os meus aprendizados no trabalho ou na faculdade. Foi preciso perdoar para escrevê-lo. PERDÃO, palavra que segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, «remissão de pena ou de ofensa ou de dívida; desculpa, indulto» ou «ato pelo qual uma pessoa é desobrigada de cumprir o que era de seu dever ou obrigação por quem competia exigi-lo». Como interjeição, trata-se de «fórmula de civilidade com que se pede desculpa». Às vezes é preciso se perdoar pra ser perdoado. Vou explicar:

Era um dia normal, como um outro qualquer, quando ele passou pela minha vista num supermercado aqui da Capital. Eu estava de longe mas o vi tão magro, tão velho, tão diferente. Empurrava o carrinho de compras acompanhado de uma de suas filhas escolhendo com cuidado na prateleira os produtos para compor a sua dívida. Fiquei com vergonha de me aproximar, fiz o que sempre faço: OBSERVEI! Fiquei ali por trás do frigorífico vendo os seus passos, tão leves agora. Ele me perecia sem pressa, coisa que não lhe ocorria na época em que foi prefeito. Olhava o preço dos produtos, seguro na mão da filha tão pai e tão humano. Virou o rosto, me olhou, acenou com as mãos, veio até mim: “Vi você no comercial da televisão, fiquei orgulhoso”. Nunca passou na minha cabeça ouvir aquela frase. Não saída de suas entranha de gente. NATO COSTA. Ele me destruiu por dentro. Me arrebatou como um gigante. Me deu um tapa sem sequer encostar em mim. Saiu e eu não o vi mais. Tentei chorar mas meu peito não deixou.Quem diria, eu pensei. Foi assim também que eu me senti num dia desses de carnaval quando a gente pega um porre e acha que as coisas não aconteceram: Eu estava no bar do Macaxeira e fui comprar cerveja lá dentro quando eu o enxerguei sozinho sentado isolado numa mesa. Pegou no meu braço e me fez sentar. “Sou teu fã por tu seres filhas desta cidade e ter ganhado o mundo lá fora, vi tua foto no ônibus e senti orgulho de ti!”. Eu estava meio tonta mas consegui ouvi direitinho. Parecia que ele insistia para que eu o perdoasse. Saí de lá arrasada. Puxei dinheiro do bolso e pedi ao Macaxeira que lhe desse em cervejas. Não sei se ele lembra de tudo isso, mas eu nunca esqueci porque ali, nas duas situações a vida me oferecia uma nova chance de recomeçar a partir do perdão. Era como se Deus estivesse me sorrindo e dizendo: “PERDOA, FILHA!”. E eu o perdoei. O Nato foi prefeito de Santa Luzia quando eu havia voltado pra lá e trabalhava no CEPEV. A política me fez sua inimiga. Nós travamos batalhas tremendas de ofensas e desavenças. Quem em Santa Luzia não lembra de mim em cima do trio petista ofendendo o prefeito da cidade aos gritos revoltadas porque ele, no dia anterior, num dos seus comícios, havia me chamado de PROFESSORINHA DE MERDA? Eu era professora, militante e petista. Ele era prefeito, detentor do poder na cidade e brigava pela reeleição. Eu sempre amei a Maria, mas odiei o Nato. “Saia de dentro de casa, senhor prefeitinho!”, eu o desafiava. Mamãe faltou morrer porque pra ela ele nunca foi o prefeito, era sempre o compadre Nato. Ela o respeitava e era seu cabo eleitoral. Eu pouco me importei e ele também não. Sei que por minha causa ele retirou o convênio que a prefeitura tinha com a escola e nós ficamos de mal a pior. Sei que por conta disso ele também não me engolia. E eu tive que voltar pra Belém por conta da falta de opções lá no município pra mim. No interior quando o prefeito é seu inimigo, ou você se ferra ou você se ferra. Eu saí de lá depois do resultado das eleições. Ele me obrigou a fazer isso. Mas, o tempo passou, a vida seguiu como um rio e eu e ele ganhamos rumos diferentes. Enquanto eu estudava na universidade, ele era cassado por desvio de verbas. Enquanto eu penava na capital, ele enfrentava os seus opositores na Câmara. Foi a nocaute. Perdeu o cargo. Foi processado e entrou pra história. Uma história que ele hoje faz questão de reescrever. Deixou de ser o prefeito e voltou a ser o Nato. Eu deixei de ser a Junia e passei a ser a Joana Vieira. Mas quem nós somos hoje? Duas pessoas que aprenderam na dor e na marra que a vida dá voltas. Que é preciso fazer a coisa certa e no momento certo porque a vida é cruel com aqueles que erram o momento. Se me perguntarem se ele hoje está pior, digo que não. Nessas voltas que a vida dar, o tempo aos poucos foi se encarregando de nos fazer perceber que o erro nem sempre tem um único culpado. O que dizem do ex-prefeito hoje é que era um homem ingênuo e que foi facilmente ludibriado pelo dinheiro e pelo poder. Dívidas, empréstimos, irresponsabilidade no ato da gestão fizeram com que a vida o condenasse as penas que ele já tem pagado. Ninguém é réu pra sempre: somos condenados, comprovou-se o erro e a pena é estabelecida e ele, saibam, tem pagado a altos preços pelos erros. Mas ganhou também. Ele voltou a ser o Nato e isso traz leveza. Ganhou uma nova chance de ser o marido bom que sempre foi, uma nova chance de ser pai, e no supermercado eu percebi o seu jeito de pai caridoso e carinhoso no cuidado com a Nágila. Ganhou a paz de ser um homem como outro qualquer. A chance de viver a sua família. UM RECOMEÇO. A gente perde, Nato, mas se observar por outro lado é uma forma de ganhar também. E o senhor, só hoje, ganhou o meu respeito. Depois de ter perdido na política ganhou a minha admiração. Sou sua fã e tenho orgulho do senhor também. Dizem que o seu erro foi fazer política com o coração, eu não sei, mas hoje, depois desses nossos encontros, percebo que seu coração é grande mesmo. IMENSO! E foi esse seu coração gigante que fez o meu lhe oferecer o meu perdão. Foi o seu jeito novo de ser o Nato que me faz pedir perdão pelos meus erros, pela minha agonia de jovem, pelo meu jeito arretado de ser. A vida nos tem dado direitos iguais de repensar nas coisas e eu creio que ela nos deu chances de sermos melhor. E o senhor foi muito melhor do que eu porque me perdoou primeiro, porque não se envergonhou em me dizer o que pensava mesmo depois de tudo. És grande, Nato. Bem maior que imaginas. És maior agora, muito mais do que naquela época em que eras prefeito. Saiba que essa professora aqui, senhor, tem muito orgulho de ser da cidade que o senhor talvez não soube cuidar, mas ama, e disso, eu não tenho nenhuma dúvida. Fica com Deus.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estás a cada dia que passa muito mais gente, Junia. Parabéns de coração pelo texto.

Fábio Costa disse...

Fiqeui muito feliz ao ler esse texto feito com o coração, suas palavras enchem de orgulho qualquer luziense que como eu,ficava triste ao ver os desafios feitos em cima do carro som,e como integrante da família Costa,lhe repudiava, mais não fiz qualquer comentário ao teu respeito pq no fundo sabia que um dia isso ia passar, te adimiro muito e, falando por minha família,se já tinhamos orgulho de ter uma amiga como vc,hoje transbordamos de emoção,tbm prefiro o meu tio Nato,ao invés do Prefeito Nato Costa,e como sangue é sangue,o amarei de qualquer jeito.Que Deus continue te abençoando sempre,um grande beijo Junia!!Parabéns aos dois!!!