13 de abril de 2010

PERSONALIDADE LUZIENSE: NEGUINHA BIL


E foi falando sobre a minha rua que lembrei saudosamente de uma amiga que mora ali pertinho da nossa casa e que viveu a infância junto de nós, a CLÁUDIA ou NEGUINHA BIL! Ela é moradora do 47 desde que nasceu, dona de uma risada incomparável e de um sorriso largo e exagerado, tem um ar de alegria tão grande que por onde chega, o lugar vira ambiente da felicidade. Vivi com ela parte da minha história. Ali, na rua Marechal Rondon, não houve uma pessoa que não riu junto da Neguinha. Ela sempre foi, desde muito cedo, extravagante, dona do próprio nariz, odiava os estudos, cazetava as aulas e colava sempre que podia. Era ousada demais, safada demais, solta demais. Quis viver uma liberdade que a mãe combatia com a força do cinto. Foi livre aos extremos e viveu intensamente todas as suas fazes. Dona Alcinda, mulher espaçosa, negra de dotes indescritíveis, saía com a sandália e o cinturão na mão e trazia a desertora pelos cabelos para dentro de casa. Era hilário! Nada nos fazia rir mais que a briga das duas: “Solta, diaaacho!”, gritava a menina de cabelos arrepiados, cabeleira cricri, beiço de nega escrava, cara de preta emburrada! Lembro que nós amávamos quando ela fugia do cativeiro e corria pra se juntar com a turma que pulava os obstáculos feitos de tijolos na rua livres leves e soltos. A Neguinha é hoje a companheira da Ângela, de quem é melhor nem falar, mas antes, era a melhor amiga da Nilda, outra peça rara. As duas não prestavam e quando resolviam se unir, era cagada na certa. Dona Iracema morria de vergonha da vizinhança. Aquelas mulheres rezadeiras que viviam na igreja e educavam suas filhas para o casamento e a vida em Cristo, não suportavam a ideia de ver as duas sentadas na calçada fazendo as meninas inocentes rirem dos enxerimentos. Nós sentávamos ali no murinho da calçada da casa da Preta e elas falavam um bocado de besteira pra gente, éramos virgens ainda e elas instigavam a nossa vontade pra sacanagem. Mamãe faltava ter um troço quando via a gente nas fofoquinhas com elas. Era muito engraçado. A Nilda é filha adotiva da dona Iracema e sempre travava lutas homéricas com a Francisca por achar que ela queria ser santa demais. A Neguinha, era a nossa Joana D’arc, a mulherada de boa família queria que ela fosse para a fogueira. Era também a nossa Maria Madalena, a prostituta perdoável. Cometeu erros que a vida fez questão de perdoar com a vinda dos filhos: engravidou duas vezes e provou por A mais B que "filho de puta" tem pai sim. As meninas nasceram a cara dos pais. Teve rapaz no 47 que não pensou duas vezes em deixar pra lá a história de DNA. As garotinhas nasceram com a marca, não deixaram nenhuma dúvida: ela apontou o dedo, neguinho fazia cara feia, mas quando o bebê nascia, era moleque torcendo a cara indignado. (KKKKKKKK)UMA PIADA, essa NEGUINHA BIL! Ela marcou. Fez história.Povoou os sonhos dos meninos e homens todos. Infringiu as leis da moralidade. Mandou a ética para os quintos dos infernos. Condenou a todos que a condenava e é hoje a NOSSA PERSONALIDADE LUZIENSE. A página é sua agora Neguinha, quiseste o posto, estás na internet, ganhaste o mundo. Por todas as risadas que já nos fizeste dar. Por todas as loucuras que fizeste e que entraram para o quadro de memória de Santa Luzia. Por todas as doidices que tivemos vontade de fazer mas só tu fizeste. Foste louca varrida, mulher da vida, vivestes as tuas fazes, deste luz a duas vidas, andaste provocando a cabeça do povo, te entregaste a quem quiseste, não olhou pra trás. Aos olhos do povo, foste provocante, amante, quenga, vadia, prost, catiroba, catiploc, piriguete, e aos meus, penso que foste FELIZ. É assim que eu prefiro dizer: TU FOSTE FELIZ. Ao teu modo, mas foste. Do teu jeito errado,mas foste. Na tua loucura, mas foste. Na tua sacanagem, mas foste.
Pela tua coragem de ter desafiado a lei e a moral. Pela tua ousadia de viver a vida é que hoje te ponho no pedestal. Esse texto é teu por tudo de bom e de ruim que passaste. Por tudo de forte e frágil que foste. Por tudo de alegre que nos proporcionaste. Em todas as ruas, bêcos e praças, valas e muros, camas e pistas, redes e caminhões, o mundo te conhece e eu te faço aqui, uma mulher de eternas lembranças. Valeu, minha amiga maluca da cabeça e doida nos sonhos.

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