17 de abril de 2010

NÃO É QUALQUER ÔNIBUS, É UM BOA ESPERANÇA

Passando pelas ruas da cidade aperreada com os afazeres do trabalho as cenas da capital que vejo e presencio da janela do carro sempre me chamam a atenção. Eu sou do interior, Santa Luzia do Pará, e, sinceramente, ainda não me acostumei com aquela ideia de que ao moradores das grandes cidades passam pela vida sem percebê-la. Sou meio cabocla mesma e não gosto, mesmo num calor terrível de Belém, do uso do ar condicionado no carro. Abro a janela para ver e perceber as coisas, gosto do vento no meu rosto, aquela sensação de estar descendo de bicicleta a ladeira do quilômetro 46 ou 48, sem as mãos no guidão aquela sensação de liberdade que só mesmo o 47 é capaz de me proporcionar. LIBERDADE. Mas foi do sinal fechado, que eu, presa no engarrafamento, vi à minha frente, um ônibus da Boa Esperança.


A cidade estava parada com o sufoco do trânsito e eu parei também diante daquele ônibus. QUE VISÃO! É só um ônibus, você pode está pensando. Não. Não era só um ônibus. ERA UM ÔNIBUS DA BOA ESPERANÇA e pra mim, ter visto aquele veículo foi uma volta obrigatória aos passado para relembrar as velhas histórias que vivemos ali, dentro de um daqueles ônibus. IMPOSSÍVEL viver ou morar no interior do estado e não lembrar das viagens que fazíamos para a capital ou qualquer outra cidade no velho e bom ônibus da Boa Esperança. O cobrador e o motorista com aquele uniforme tradicional cor de rosa, bolsinho na camisa para o trocado para o troco. O corredor lotado de gente aos apertos, a briga incansável pela janela – caramba, saía porrada na hora de pegar janela. Isso porque quando éramos pequenos e pobres gostávamos de viajar olhando para a paisagem, sem contar que o vento era um item necessário, pois naquele tempo, ar condicionado ainda não fazia parte da realidade da empresa. INESQUECÍVEL a raiva que sentíamos quando não conseguíamos sentar na poltrona da janela e os passageiros inconvenientes sentavam no braço da nossa cadeira – Podre! A gente faltava morrer de raiva, aquele homem com a bunda quase por cima de nós. (KKKKK). Hoje viajar em pé é proibido mas antes, ir no corredor em pé era normal. Fazia parte. Assim como fazia parte também dessa nossa aventura, as paradas nas rodoviárias onde os vendedores do lado de fora tentavam vender os seus produtos pelas janelas: aquele cabinho de vassoura com um prego na ponta onde eles penduravam o saquinho amarelinho cheio de furos com laranjas descascadas e já com a boca feita (não sei se lembram mas o primeiro chupo era sempre amargo por conta da boquinha já ter sido cortada há tempos), maçã, saquinhos de plásticos com bolinhos bem organizados, castanha-do-pará em saquinhos de chope, o refrigerante em lata, o pastel frito delicioso feito em Santa Maria do Pará com recheio de picadinho. Não dá pra esquecer daqueles homens e mulheres aos gritos tentando chamar a atenção dos fregueses, senhores com as formas de isopor cheias de chope e laranjinha de ki suco, as broas e as roscas amarelas (rosca amarela com chope de uva- quem nunca comeu não foi feliz), pamonha, milho assado, pupunha, picolé. Era tanta coisa pra encher os olhos da gente. Fui feliz por ter participado disso. Quantas viagens não fiz num Boa Esperança ou Itapemirim e hoje recordo com saudade. MUITA SAUDADE! Ônibus lotado, povo apertado, menino chorando, mães amamentando, pais com os bebês no colo, histórias que a gente ouvia vindas do banco de trás, ciganos e seus cheiros estranhos, o sonhinho entre uma cidade e outra, o choro da molecada, a ansiedade para que algum passageiro descesse e sobrasse mais um lugar pra sentar, a ânsia de vômito. O VÔMITO. Quem nunca vomitou num ônibus da Boa Esperança? (KKKKKKK) A gente via o molequinho agoniado depois de ter comido o pastel jorrando pela boca e nariz todo o lanche pra fora...UMA AGONIA só porque depois de um, mano, vinha uma sequencia. (KKKKKK). Vomitávamos em efeito dominó; um atrás do outro (KKKKKKKK). MUITO BOM LEMBRAR, e se você, depois de ter lido esse texto, ainda estiver pensando: “Mas é só um ônibus!”. Eu te afirmo que não: É UM ÔNIBUS DA BOA ESPERANÇA!

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