13 de abril de 2010

O QUE MUDOU E O QUE PRECISA MUDAR EM SANTA LUZIA? A MINHA RUA, O MEU RECANTO


E por falar em mudança, vou te contar da minha sensação de desconsolo ao ver e perceber as mudanças que ocorrem na rua da casa onde eu morei e me criei. Nossa casa onde meus pais ainda moram, fica localizada na rua Marechal Rondon esquina com a Magalhães Barata. Morei ali a minha infância e adolescência inteira até chegar o dia em que papai me mandou para os estudos na capital. Ali, naquela ruazinha estreita quando nem asfalto existia ainda eu vivi os melhores dias com os melhores amigos: Da casa da dona Raimunda e do seu Gildo Barbeiro até a casa do seu Bebé eu conhecia cada pedra que havia no chão onde brincávamos de cemitério, vôlei, futebol. Daquela rua ficou em mim cada vala que se enchia quando a chuva forte chegava para alegria da molecada. Naquele bairro os meus melhore sorrisos, as minhas eternas aventuras. Tem pedaço de mim misturado com aquela piçarra debaixo do asfalto, raspas do meu joelho que ficaram misturadas na areia em dias de piras e esconde-esconde. Tem cascão de ferida por todo lado naquelas calçadas onde jogávamos o cai-no-poço, ou salada-mixta. Se eu fechar os olhos e aguçar os meus sentidos, ainda ouço a dona Maria do seu Jorge gritando pela Sonia e pelo Jeová, o seu Bebé puxando o Melque pelo braço aos gritos, a mamãe, a dona Maria berrando para expulsar os meninos que pertubavam o seu sono da tarde. O meu cheiro em tardes de pouco sol embaixo das árvores que caíam pelo muro do meu quintal se misturava com o cheiro forte de pão que assava na padaria do seu Japonês, o pai do Marcio. Eu sou a Rua marechal Rondon em dias de frutas caindo das árvores carregadas de manga e jaca amarelinhas. A rua Magalhães Barata é um pouco daquela moleca que corria da briga pro pai não brigar. Tudo ali me lembra a minha infância em corridas com os meninos, em casinhas com as meninas e aos berros disputando as pernadas com a mamãe para não apanhar. O 47 está em mim, nas marcas que trago na testa das quedas de bicicletas monaretas. Nos tombos que levei ao subir em mangueiras e jaqueiras. Nos banhos de chuva aos escorregões no pátio lavado com sabão em pó. Nos desafios naquela ladeira que guarda até hoje muitos de meus melhores amigos: os filhos do seu Davi, a Marlene da dona Quita, os filhos da Nenê Nogueira, as meninas do Pitonho e da Luiza, a Neguinha Bil, a Márcia, a Francisca, o Marcio Japonês a Sirlene da Preta, os filhos do seu Jorge, os filhotes do seu Bebé, a Cristina da dona Sofia e do seu João Nogueira, a Josy e a Bella da dona Irá, a Lane e a Eliane da ritinha e muitos outros meninos e meninas que marcaram a minha vida.


Vista frontal da rua Marechal Rondon onde praticamente todas as casa já foram reformadas e não têm mais a cara das que permanecem nas lembranças dos que viveram por lá.


Parte da casa do seu Gildo Barbeiro foi vendida e demolida para a construção de um salão de beleza moderno e que hoje faz concorrência ao seu.


A casa da Ritinha Nogueira, a mãe da Lane e da Eliane, foi totalmente destruída e em seu lugar também a construção de uma outra residência, só que agora maior e mais bonita.


A casa da minha madrinha, a dona Iracema, mulher do seu Pedro Machado, fui demolida e está sendo substituída por outra que será destinada para o aluguel de kit Net’s.


O lugar onde funcionava a padaria do seu Môra, hoje abriga uma casa gigantesca construída por ele em altos e baixos e que nem de perto é parecida com a que havia lá naquela época.


A casa onde morava a Preta e seus filhos foi vendida para outra família e também passou por reestruturação arquitetônica.


Uma das sobreviventes é a casa da dona Quita, mãe de Marlene. A casinha da dona Quita ainda continua do mesmo jeito ali imprensada resistindo ao tempo e imortalizando as lembranças.


Outra sobrevivente é a nossa casa que sofreu algumas mudanças mas continua com a mesma arquitetura desde os tempos em que foi construída, há 35 anos. Por enquanto, pois a nossa casa vai entrar em reforma ainda este ano e perderá toda a sua originalidade.

Santa Luzia cresceu e está acompanhando o desenvolvimento da arquitetura moderna. Muitas casas foram postas ao chão, muitas famílias já nem moram mais por lá e a mudança acabou com o nosso palco onde encenávamos as melhores peças: as histórias da vida real. Mudanças que, muitas vezes, nem foram provocadas pelo poder público, mas por terceiros, pessoas que compraram as velhas casas para construir outros prédios em alvenaria e de dois andares. É o que está acontecendo ali nos arredores da casa da mamãe. Estive lá e percebi que a rua já não é mais a mesma, construções inovadoras retiraram pra sempre a cara do nosso cenário, reformas que tiraram de nós um pouco das nossas melhores lembranças que, antes que sejam apagadas de vez, faço eternas a partir deste texto que hoje escrevo. Espero que gostem.

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