Somos o melhor de tudo o que se pode construir ali!

Estive pensando no recadinho que recebi ontem no mural deste blog, a pessoa que me escreveu foi muito feliz quando disse “Espero que as pessoas vejam mais esse encanto que é Santa Luzia do Pará, pois não se trata da cidade em si, mas das pessoas que vivem lá e das amizades construídas". É assim que o meu coração pensa. O 47 não é só uma cidade que, como qualquer outra, tem suas mazelas, seus problemas, suas desilusões. Não porque, desde que eu sou pequena, esse lugar não era uma cidade maravilhosa pelo shoppings que possuía porque nunca tivemos shopping’s, eu não amava a minha cidade por causa dos grandes balneários ou clubes porque tudo sempre foi muito miúdo ali, só tínhamos a pracinha e a igreja e nem por isso fomos infelizes. O bom de Santa Luzia é o povo, a nossa turma, gente que se sentia bem nos mínimos detalhes, sentados no encostos dos banquinhos de mármores, jogados ao sol quente na grama de puro capim. Pessoas que eram felizes só em tomar o suco de coco do seu Feliciano, como disse o Fábio. Amigos que se divertiam ao redor do carrinho de tacacá da tia Lídia - éramos felizes comendo as unhas de massa feita com farinha e o recheio de farofa de camarão. Sabíamos o que era a felicidade nas conversas e encarnações sentados em grupo na calçada do Skina’s Bar. Ir de bicicleta nos ramais em busca de aventuras era uma alegria. Chegar à Florentina e assistir as aulas, colar em dia de prova, comer sopinha de letrinhas coloridas nos pratos de plástico azul com aquela colher horrível, fazia da gente pessoas diferentes.

O melhor dessa cidade somos nós. Toda a beleza deste lugar está muito mais nas pessoas do que no calçadão recém construído. O que há de bom nesse quilômetro entre ladeiras é a galera que mora lá, gente inesquecível que fez e faz história, que sente e deixa saudade. Por isso que, ontem, quando visitei o blog do Reinaldo e li a notícia da morte do Missião me doeu muito mais do que ter visto as fotos do Estádio que nunca foi concluído. Saber que ele morreu me feriu profundamente o peito. Muito mais profundamente do que saber de qualquer obra inacabada. Mas ele era só um bêbado?, muitos podem dizer. Não. Ele definitivamente não era apenas mais um na sarjeta, o Missião era muito mais que um indigente jogado à sorte e a mercê das esmolas. Ele era o nosso Missião. Ninguém ali naquela cidade foi capaz de olhar pra ele com pena de sua condição social porque ele foi bêbado, mas foi um piadista de primeira também, foi um alcoólatra mas foi o nosso contador de historia preferido, foi enjoado, mas quem de nós vai esquecer do dia que encontrou com ele e ele, sobre o afeito da cachaça, de cócoras fez a gente morrer de rir? QUEM É CAPAZ DE APAGAR DA MENTE ESSA IMAGEM? Ninguém. Nenhum de nós que viveu ou vive ali é insensível o suficiente pra não sofrer com a perda dele. Sofremos, sentimos porque ele é luziense e o melhor de nós é ser também parte dessa cidade.

Somos o melhor de tudo o que se pode construir ali. Somos maiores que qualquer fato consumado ou obra construída. Por isso os políticos brigam por nós, por isso o poder que nós temos é que muda o rumo da vida deles. SOMOS OS MAIORAIS. Vi isso no Santa Luzia Coutry, a galera feliz naquele lugar, amigos nos reencontros, piadas e abraços bem dados, bem feitos. Ali ao arredores do Mercadão antigo, uma obra faraônica que gerou e gera críticas e duvidas, ofensas e processos. Quem se importou com ele? Quem parou a conversa pra lembrar que o Mercado está inacabado? Ninguém. Nenhum de nós porque nos bastamos com a nossa presença. Sabemos o nosso valor. Nós é que somos o orgulho dessa nação de gente humilde, honesta.E sabemos disso!

E no enterro do Missião, muita gente chorou. E se aquele prédio do Mercadão inteiro desabar, ninguém talvez,sequer perceba!

VAIS FAZER FALTA, MESSIAS...PODES TER CERTEZA!!!