Estive revirando algumas fotos por aqui e vi que guardo entre as imagens do arquivo deste blog uma ilustração da época da construção dos altos do prédio que pertence à família Oliveira, o antigo, Eskina’s Bar. Uma construção antiga e que desde muito tempo faz parte do cenário da melhor paisagem de Santa Luzia: a Praça, a Igreja Matriz, o nosso cartão postal.
Foto da reconstrução do prédio do Mercadinho da dona Mena - destaque para a barraquinha azul - o Joana's burg's
O prédio onde antes funcionou o mercadinho da dona Mena e o Depósito do seu Ademir foi reformado e ganhou uma nova arquitetura. Essa adaptação, claro, mexeu com a imagem do centro de cidade, que já contava com outras significantes reestruturações como o prédio da prefeitura, reformado no governo Nato Costa e feito em altos também; a estrutura interna e externa da Igreja; o Bar do Nego e o Salão Paroquial que está em fase de readaptação. Mas, o que mais me chamou a atenção na imagem, foi um dos lados de uma barraquinha de lanches que fica na praça, e que aparece meio tímida de “entrometida” na foto. Essa barraquinha, pra quem não sabe foi construída por mim na época em que eu voltei ao 47 depois de tantos tapas que o destino me deu.
Lanche do Tarcizinho, meu antigo trabalho, época em que eu era chapista.
Eu havia engravidado, deixado os estudos e recebi uma proposta da Eulália para voltar à Santa Luzia e trabalhar no CEPEV. Eu topei, mas como era “casada” investi os primeiros salários na construção desse "treiler" de madeira. Trabalhava em dupla jornada: uma na escola e outra na chapa fazendo sanduíche. Vida dura, dura mesmo.
Eu voltei para a Florentina a fim de terminar o magistério por ordem da própria Eulália. Passei anos ali, naquela vida incompatível a vida de um filho do seu Feliciano. Gostava de Santa Luzia mas me sentia envergonhada de exercer aquele trabalho, apesar de ser feliz com ele. Lembro que um dia o Edinaldo, quando ainda não era o empresário Edinaldo Lucena, disse que era inconformado em me ver daquele jeito. Ele falava brincando, mas havia uma certa ironia no seu olhar que me minimizava, não que ele, como um amigo, quisesse me humilhar, não, nem pensar, mas era que ele sabia do meu potencial, sabia e não tinha dúvida de que eu podia ser mais do que uma chapista especialista em fazer hambúrguer. Eu nem pensava nisso, acreditem. Nunca me achei a melhor filha, nem a melhor aluna, mas comecei a perceber, ali mesmo, no 47, que eu era sim a melhor professora. Digo isso sem modéstia porque as pessoas que tinham os filhos educados por mim sempre confiaram e gostaram do meu trabalho. Lembro que a Vitória um dia me disse que me pagava pra não abandonar o CEPEV e o Pedro Henrique, o seu filho mais velho. E eu fui professora de tantos meninos ricos, a Amanda, o Ahrnon e o Rhamon, a Fernanda do Baby, o Jaiane da Josy, as filhas da Izeneuda e outros garotinhos que me faziam feliz naquele novo rumo que não era bem o que eu havia escolhido, mas no qual eu seguia com carinho.
Fui obrigada, por necessidade a aceitar o emprego. Na época das eleições em que a disputa era feita pelo Nato Costa e o Louro do PT, eu confundi as coisas, era muito jovem, empolgada, o Nando era candidato pela primeira vez e teve que se afastar da campanha por causa de uma cirurgia e pediu que eu fizesse os discursos em nome dele. Eu me desentendi como o Nato que era candidato e virou prefeito, e na sua gestão a primeira atitude foi romper com o convênio que a prefeitura mantinha com a Eulália.
Nós passamos maus bocados ali, e eu, particularmente, não consegui ter condições de sobreviver à falta de oportunidade. O Louro havia perdido e não tinha nenhuma influência, o Nando ganhou o título de vereador, mas como era da oposição foi espremido pelo governo. Eu não aguentei a pressão e voltei para Belém. O tempo passou, eu sabia que depois dali eu não tinha mais nenhuma chance de errar, ou eu acertava, ou eu me ferrava de vez. Deixei a minha casa alugada em Santa Luzia e parti de volta para os estudos. Eu estava separada, a Karem ficou com o pai por uns meses e eu resolvi estudar de verdade. DEU CERTO!
Na Assembleia Paraense numa primeira versão da palestra "CANTANDO A AMAZÔNIA"
Eu e o Professor Bouth numa parceria que resultou em uma palestra para 2200 pessoas.
Eu e o professor Assaid no evento "AS MÚSICAS CONTAM HISTÓRIAS I" que aconteceu no ginásio de UEPA Almirante Barroso, uma palestra que reuniu 3600 pessoas para o público de ouvintes.
Eu e o professor Assaid no evento "AS MÚSICAS CONTAM HISTÓRIAS II" que aconteceu no ginásio de SESC na Doca. Levamos juntos, um montante de 3 mil pessoas para o público de ouvintes.
O tempo, às vezes, pode até parecer nosso inimigo, as batalhas que travamos podem até parecer um ponto final, mas não. Por isso, que hoje, de certa forma, devo ao Nato, devo a ele por que ele foi o meu inimigo na hora certa, me forçou a entender as coisas da pior forma possível, mas me fez entender. ESSA É A MAIOR LIÇÃO! Se tivesse dado tudo certo daquele jeito, hoje eu estaria em Santa Luzia, seria a chapista dessa barraquinha, não seria mais professora porque o CEPEV fechou e estaria por lá, jogada ao esquecimento: “Quem é essa moça?”, perguntariam. “É a única filha do seu Feliciano que não se formou!”. Foi desse destino que a vida me poupou. E assim como hoje, os meus amigos são, o Edinaldo Lucena, o Celso Nunes, o Miguel Maia, eu sou a Joana Vieira.
Turminha de alunos do CEPEV concentrada na salinha de leitura junto da professora Rosângela.
Sala de Convênio no Impacto, aula ministrada por mim às vésperas do vestibular 2010
Em sala de aula no Impacto, minha turma da sala 02 do cursinho pré vestibular.
Me orgulho de fazer parte da história da minha cidade. Tenho a maior honra de ser filha do seu Feliciano e da dona Mariazinha. Não trago medos dentro de mim e por isso aceitei, enfrentei e assumi a minha opção sexual. E mesmo morando numa cidade pequena, sendo de um lugarejo tão restrito de atitudes leais e éticas, nunca, nunca, nenhuma pessoa de Santa Luzia me tratou com preconceito ou descriminação. Vou a casa de meus amigos com a May e as pessoas respeitam a mim e a ela com amor e admiração. Por isso tenho orgulho do meu lugar. Tenho honra em ser de Santa Luzia. A minha família nos ama, os meus irmãos nos aceitam e isso pra mim é o amor na sua forma mais pura e sensível. Saber que a minha mãe, uma mulher religiosa fervorosa, o meu pai, um senhor simples e sem muito estudo, souberam amar acima de tudo e de todos a mim e aos meus novos valores. Ganhei respeito, por isso valorizo os amigos, aqueles que julgam e são julgados. Devo a todos eles as lições que eu um dia pude aprender na dor, na força, mas com paciência e muita luta eu aprendi.
Meus amores. Minha vida, a razão de tudo o que eu faço de melhor.
Fui ao 47 na Semana Santa e fui cobrir um dos ensaios de uma quadrilha junina, os meninos ensaiavam na quadra do CEPEV e eu entrei lá, fui andando por aquele corredor cheio de grades,onde as criancinhas se atracavam chorando pelos pais, era tão vivo aquilo em mim que eu conseguia vê-las correndo por ali no intervalo, aquele recreio, os pequeninos dividindo o lanche com a tia, eles voltavam para a sala suados e nós abanávamos a todos com a cartilha para se acalmarem em suas cadeirinhas.
Eu em uma visita emocionante ao CEPEV o meu primeiro emprego.
Hoje, no Impacto - são sete Unidades espalhadas nos bairros mais nobres da capital.
Aquilo estva tão vivo em mim que se eu fechasse os olhos, conseguia enxergá-los ali em rodas nos passinhos ensaiados das cantigas de nossa infância, ouço o barulho de sua gritaria, o pula corda no recreio, aquele que sempre caía e machucava o joelho e a alegria da campa que sinalizava a hora de irem para casa. Era tudo tão pequeno e feliz. As mães que esperavam os seus na frente da escola e eu que vinha do km 46 pedalando a minha bicicleta doida para chegar à casa da mamãe, pegar a Karen e chegar em casa para o preparo do almoço.
Muita coisa mudou de lá pra cá é bem verdade, as salinhas do CEPEV foram substituídas pelos auditórios do Impacto. O giz que sujava o quadro verde perdeu espaço para os pincéis atômicos, o quadro digital, as telas de data show, os arquivos em vídeos, o microfone. As mesinhas com as cadeirinhas coloridas agora são em número extraordinário, os meus doze alunos, hoje são 21 mil - tanta gente que é difícil saber quem estuda comigo. O CEPEV tinha uma equipe de seis professores, o Impacto tem uma com 258 profissionais e só de Língua Portuguesa somos 23 magistrandos. Eu sou a professora oficial de todos os convênios e cursinhos nas turmas de pré-vestibular, trabalho de segunda a sábado e sou palestrante nas oficinas de representação da escola.
Equipe de professores do CEPEV - profissionais e amigos que marcaram a minha história
10% da equipe do Impacto reunida para a gravação da propaganda televisiva.
Meu patrão, o senhor Gemaque Maroja - meu segundo pai.
Na época da anulação do vestibular da Universidade Federal fiz um piquete que fechou a avenida Almirante Barroso por três horas e organizei junto de outros amigos manifestações que culminaram na anulação total da primeira fase do vestibular da UFPA que é hoje a maior instituição do norte e nordeste.
No dia do piquete que culminou num engarrafamento de 14 quilômetros na capital - um protesto encabeçado por mim que exigia a anulação total do Primeiro Processo Seletivo Seriado por suspeita de fraudes e irregularidades comprovadas. Fizemos o movimento e anulamos a prova do ano passado.
Sou professora titular e tenho, graças a Deus, o melhor IBOPE da equipe de português e o segundo melhor de toda a equipe de profissionais. Sou escritora e já escrevi dois livros, vendi 16 mil cópias do meu primeiro livro e fiz uma edição limitada de 3 mil exemplares do segundo que já foram todas vendidas. Estou escrevendo o terceiro: “NORTE NÃO É COM ‘M’” que será lanchado no segundo semestre. Tenho o melhor patrão do mundo, um homem rico, honesto e humilde que me trata como filha, me chama de Joaninha, me apresenta como filhota aos que perguntam por mim. Fizemos a maior palestra da história de uma escola no ginásio de Educação Física que contou com a presença de 6 mil pessoas, palestrada pela equipe Bio, composta de quatro professores artistas dentre médicos e biólogos, eu fiz a segunda maior palestra junto de um professor chamado Assaid especialista em História do Brasil para uma plateia de 3500 pessoas. Elegemos um vereador em Belém, o professor Pantoja. Fomos certificados pela ISO 9001 e somos hoje, a maior rede de ensino de todo o norte e nordeste do Brasil.
Discursando no lançamento do meu primeiro livro "MÚSICA: uma visão literária"
Lançamento do meu segundo Livro num discurso super emocionado junto do Nilson, do Prefeito e do vice-prefeito da minha cidade.
No lançamento do meu primeiro livro na sessão de autógrafos.
No lançamento do meu segundo livro em Santa Luzia fazendo o autógrafo no livro para o Nilson Chaves.
O Impacto é a minha vida. Santa Luzia é o meu lugar. A Karen é o meu amor. A May é quem me faz feliz. E hoje, quando retorno ao 47 e vou lanchar na Praça, sempre passo no Tarcisinho que é o dono da barraquinha de lanche que foi minha e tomo um suco por lá. Sento num daqueles bancos pensando: “ A vida, essa incógnita, me fez tantas vezes trabalhar do lado de lá do balcão e hoje, estou por aqui como freguesa do lado de cá!” Que bom, meu Deus. Que bom!
E àqueles que perguntam como eu consegui, digo que QUANDO A VIDA MOSTROU A TODOS QUE EU ERA UMA PESSOA DESACREDITADA, EU ACREDITEI EM MIM E NOS MEUS SONHOS!DEU CERTO!
3 comentários:
na verdade os nomes certos sao :
Ahrnon , Rhamon, fernanda do baby e jaiane da josy, beijos júnia adoro seu blog e parabens pela inteligência.
Boa, menina.Manda brasa,como diria o Sr.Ademir.
Essa Júnia é f... No bom sentido,mana.
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