4 de maio de 2010

Louvado seja o seu santo nome...

E como o assunto é NOME. Vou repassar para os que não leram o meu livro “Maria de Moura, a mulher que passou do céu” uma de suas páginas que fala exatamente sobre isso. Espero que gostem:

Mamãe sempre foi assim: Católica Apostólica Romana. Chova canivete ela não perdia uma missa. Engraçado que ela estava em todas: Missa das crianças, do idoso, dos jovens...não interessava o tema. Importante que era missa. Lembro que, quando o sino da igreja tocava, ela já estava no quarto penteando os cabelos e escolhendo o terço. Às vezes era engraçado que a entonação do sino era só para indicar as horas mas ela não perdia o embalo e saía porta a fora dizendo: “Não se deve ter hora pra rezar. É obrigação do cristão rogar a Deus sempre!”. Nós ficávamos sem saber o que fazer porque ela não deixava a gente mexer nas panelas e só comíamos quando ela retornava da igreja. Mamãe era uma beata assídua. Dona Maria é tão fanática pela igreja que escolheu da Bíblia todos os nossos nomes. Todos, claro, em homenagem a algum Santo. Veja só, por exemplo o meu nome: Joana D’arc Soares Vieira. Honra e glória à santa de nome igual. Coitada da mamãe se soubesse o que eu faço por aí...no mínimo me chamaria de Maria Madalena. Lá em casa tem de tudo: Santo Antônio, São Francisco, Nossa Senhora de Nazaré, Santa Luzia...tem pra todos os gostos. Só quem escapou da folhinha do calendário foi a Jamylle, mas nova, ela teve sorte que os outros irmão já tinham alguma influência sobre as benditas ideias da Maria. A do Perpétuo Socorro, filha mais querida de dona Maria, foi que pediu e convenceu: “Mas mãe, a criança nasceu em outra época, nós estamos na modernidade, coloca um nome melhorzinho nela”. E aí, pra não dizer que decepcionou ao pedido, soltou a pérola: “Ta bom, mas vamos colocar o Antônia na frente, é que teu irmão, o Santo Antônio virou crente e não acredita mais em imagem. O Santo Antoniozinho deve ta triste comigo”. Assim, foi registrado então: Antônia Jamylle Soares Vieira. Coitadinha dela. Nosso nome interferia tanto na nossa frustração quando crescíamos que rapidamente tratávamos de dar um jeito de arranjar um apelido pra nos livrarmos daquela benção de escolha....Foi aí que o Francisco virou Tata; o Antônio virou Tonho; Eu, virei Júnia e a Luzia virou Luca. O mais novo dos homens, o Júnior, também se livrou da santidade quando herdou o nome de papai, mas não sei o que foi pior, deixar de ser o Santo Expedito ou ser registrado como Feliciano. Há benção maior que essa? Deus é realmente o máximo...Se bem que...vejamos o caso de uma outra irmã nossa. Seu nome é Maria de Jesus – Maria já é um nome esquisito, imagina ser uma Maria de Jesus...Lindo não? Seria cômico se não fosse trágico. A Jesus, como nós a chamamos agora por exigência do seu Marido, o Cruz – veja só que coincidência fantástica, era conhecida no interior como Quinha, mas agora o seu Cruz faz questão que todos saibam que ele é o Cruz da Jesus. Glória a Deus!!! E viva a Nossa Senhora de Nazaré...Viva!!! A Nazaré que virou Nazinha pra escapar do original, ganhou aqui na capital, uma música que é a sua cara... “Naza...Nazarézinha, Nazaré rainha...”. Deus é realmente tudo de bom. Abençoado seja o seu santo nome.

Tem gente que pensa que o assunto é brincadeira, mas nós somos o nosso nome. É importante que gostemos do nosso registro, caso contrário isto pode trazer perturbações de personalidade. O nome é, na verdade a nossa personalidade. É por isso que há pais cuidadosos que compram até livros que especificam o significado de cada nome. O Feliciano, meu irmão, por exemplo, vai ser papai pela primeira vez e não teve coragem de dar o nome de Neto ao filho. Talvez porque saiba o que é conviver com esse nome: FELICIANO. O garotinho se chamará Matheus. Nome forte e de personalidade marcante. Sem contar que é bem melhor escrever uma carta de amor ao Matheus do que ao Feliciano. Como pode alguém amar alguém com um nome desse?
O nome é importante e deve ser de bom gosto. Você não ia gostar de ter em registro um nome do tipo Caio Pinto ou Rolando Pinto, por exemplo. Trostski ou Hamurabe como é o nome de dois sobrinhos nossos. A mãe tentou salvá-los do registro mas....
Esse assunto mexeu tanto com a gente que foi preciso muita criatividade para fugir dele. Veja só esses exemplos: A Nazaré não gostava do nome dela e virou Naza que é igualmente feio, aí meu irmão Francisco, Tata ou Chico, teve a brilhante ideia de apelidá-la de Prequeté. Como o apelido era muito feio, hoje ela é a Prequis. A Narolívia, minha sobrinha resolveu se livrar do nome longo encurtando para Nara, como a garota era muito esperta, ganhou o apelido de Passada na casca do alho, novamente algo longo. Algumas reclamações e a Nara virou a Papá. A Antônia Jamylle é a mais nova de nós e por isso sempre foi manhosa demais aí ganhou o apelido de cú cagado, mas como o apelido ultrapassou os limites, hoje, a Janjam virou a cuquis...A Maria do Socorro exigiu um apelido e logo se transformou na Help. Só que a galera achou chique demais aí trocaram por Corrinha, como ela é muito mandona e impaciente. A Cuquis apelidou de General aí a Prequis mudou para Gener. E por ai vai..A Karen não cresceu e virou Catita. O Arthur engordou muito e virou tio bolinha. O Felipe virou Felp. E nem a minha empregada que é uma magrela escapou hoje é tia palito.
Nossa família é mesmo o máximo mas eu acredito que se não fosse essa obsessão da mamãe pela igreja, nada disso teria acontecido. Hoje, o Júnior não seria o Culhudo e o filhinho dele que ainda nem nasceu seria apenas o Matheus e não o Pirocudo.
Isso porque os nomes aqui sofreram uma evolução senão a Deusa ainda seria a Doença, eu seria a Bucho, a Naza o Sapóide de osso e assim sucessivamente.

Essa história toda me lembrou um tio meu: Manuel Raimundo. Ele hoje é o Dhone para os amigos e pede segredo a sete chaves para o nome verdadeiro. Ele um dia me disse que odiava o seu nome. Eu explicava que era uma homenagem ao pai dele, meu avô:

- Poxa, tio, o vovô já morreu, não diga isso!!!

- Morreu sem o meu perdão. Soube que foi ele que fez questão de me dar esse nome.
- Que que é isso, tio, é seu pai e está morto!!!

- Esse nome é coisa de padrasto e não de pai. Pai de verdade não sacaneia com o filho assim filha!!!

- Poxa tio o senhor sempre soube que era o filho mais querido...

- Mais querido uma pinóia, tia!!! Se ele me amasse só um pouquinho colocava Manuel..Só Manuel. Ou então Raimundo. Só Raimundo...assim amenizava. Agora colocar os dois juntos: Manuel Raimundo, aí, tia, é sacanagem!!!!

Pobre do meu tio...Mal sabe ele que existe coisa pior. Outro dia li na internet a manchete de que um casal que se conheceu em salas de bate papo batizou o filho de Yahoo em homenagem à Maicrosoft. Aqui mesmo no Brasil, outro dia, um chinês que engravidou uma brasileira quis brigar na justiça para que o nome da criança fosse @. Isso mesmo @. Ainda que fosse “arrouba”, mas @. Ai é sacanagem, né tio?

Meu irmão mesmo, o Júnior, que é médico, um dia me contou que um paciente perdeu a vez porque ele não soube ler o nome com a pronúncia desejada pela mãe e chamou o Waldisney, sem saber que aquele era o Wal Disney em homenagem ao mundo encantado do Mickey e da Minnie. Aí é sacanagem né, tio? Sorria Dhone, você teve foi sorte.
Talvez seja por isso que essa nova levada de netos tenha saído assim...Athos, Adam, Alice. Vitor, Eunice e Karen, Arthur e Adonis...por que nós, os pais sabemos bem o que é viver o trauma de uma escolha errada na hora de batizar o molequinho com aquele nome .

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