3 de julho de 2010

Desvendado crime da mala

Ex-namorado de Kelli é inocente. Assassina tem 18 anos e agiu com três cúmplices, porque achava vítima "boçal".

Quase um mês depois de encontrado o corpo de Kelli Queiroz da Silva, 20 anos, a Polícia Civil desvendou o "Crime da mala". Foram identificadas e presas três mulheres e um homem. Poliana Lima dos Santos, 18 anos, confessou que tirou a vida da vítima com uma facada na nuca, no dia 26 de maio passado, quando elas se preparavam para sair para mais um dia de trabalho, como garotas de programa. Têm participação no assassinato, ainda, as também garotas de programa Rosicléia Ramos Amaral, 25 anos, e Jéssica Cristina Sanches, 20 anos, além de Diego Correia Baia, 20 anos.

A delegada da Seccional Urbana da Cidade Nova, Elizeth Cardoso, responsável pelo caso, explica que o crime foi desvendado a partir da identificação da vítima no Instituto Médico Legal (IML), feita pelo ex-namorado de Kelli, o agente de segurança particular Márcio Costa, que depôs ontem, pela manhã, sobre o caso, sendo descartado totalmente de qualquer envolvimento com o crime. Com a identidade do cadáver revelada, a policial e a equipe de investigação de homicídios descobriram que Kelli era garota de programa e começaram a levantar a rede de relacionamento que a envolvia, incluindo os últimos passos antes de seu desaparecimento.

Analisando o controle de saída de pessoas, no condomínio onde Kelli morava, o Jardim Pindorama, no bairro do Coqueiro, foi fácil chegar ao nome "Tamiris", usado por Poliana durante o trabalho como garota de programa. Ela esteve junto com Diego, por volta das 17h30, na casa da vítima, no dia 25 de maio, a poucas horas de ocorrer o crime. Os dois chegaram em uma moto verde, de propriedade do rapaz, para convidá-la a ir mais tarde na casa onde ela seria morta, na passagem Ceará, próximo à Rua Sideral, também no Coqueiro, a residência de Poliana.

Poliana se encontrou com Kelli e elas lancharam juntas, acompanhadas de Rosicléia, conhecida como Rose, Jéssica e Diego, nas proximidades da residência da principal acusada. Depois de comer, o grupo se dirigiu para a casa. Jéssica ficou no andar de baixo, enquanto as outras três mulheres subiram para os compartimentos alugados por Poliana. A vítima foi tomar banho para se arrumar e, quando saiu do banheiro, envolta em uma toalha, foi golpeada no pescoço, sem nenhum motivo aparente.

A delegada Elizeth afirma que Jéssica estava dando cobertura embaixo, enquanto a dupla esperava a vítima sangrar até a morte. Cessado o sangramento, as duas lavaram o corpo e colocaram na mala que pertencia à Rose, uma ideia também de Poliana. Para evitar o vazamento de fluídos do cadáver, elas envolveram a bagagem em um saco plástico e depois em um lençol.

Nas primeiras horas do dia 26 de maio, as duas desceram o volume até o andar de baixo e chamaram Diego, que havia saído para comprar créditos para o celular. Como não caberia todos no veículo, somente ele e Poliana levaram o cadáver até a ponte do Igarapé da rua Jibóia Branca, onde despejaram a mala com o corpo de Kelli no interior. O cadáver só foi descoberto no último dia 2 de junho.

‘Devia ter tacado fogo no corpo", diz presa

Morena, cerca de um metro e 65 de altura, cabelos lisos e negros, várias tatuagens pelo corpo, com uma grande em destaque nas costas, com a frase "Jairo - te amo" e um bonito rosto de adolescente, a acusada de assassinato Poliana Lima dos Santos, 18 anos, mostrou-se arredia à imprensa e oscilante entre o choro e o riso diante de sua prisão por homicídio qualificado. Por várias vezes, ela sorriu e cochichou com sua amiga mais próxima e também presa, Rosicléia Ramos Amaral, a Rose, 25 anos. Porém, também foi aos prantos algumas vezes ao se perceber presa.

Dentre as declarações de impacto de Poliana, uma se refere à ocultação do cadáver de Kelli Queiroz da Silva, 20 anos. Ela comentou diante das câmeras que deveria ter "tacado fogo" no corpo ao invés de colocar em uma mala, como foi feito, de fato. Perguntada sobre a razão para cometer o crime, em depoimento à delegada Elizeth Cardoso, ela disse apenas que tinha uma rixa com a colega de trabalho, que não gostava do comportamento dela e a achava "boçal".

À reportagem, Poliana também não deu detalhes sobre o assassinato. "Não estou a fim", repetiu quando questionada se não queria falar sobre a acusação. "Sou rebarbada mesmo", comentou entre uma e outra tentativa de esconder o rosto das câmeras. Indagada sobre se sentia inveja da vítima por causa de sua beleza, ela apenas disse: "Não é preciso ter beleza para sentir inveja de alguém".

No inquérito, a amiga, aparentemente mais próxima de Poliana, Rose é apontada como quem segurou a vítima para facilitar o o golpe. Ela conta que não pensou duas vezes em ajudar a parceira com quem mantém uma amizade sólida. "Entre ela (Kelli) e minha amiga, eu prefiro a minha amiga", afirmou Rose. Mostrando-se calma e sem arrependimento, Rose contou que não houve luta na cena do crime, confirmando que a vítima foi apenas golpeada, sem chance de reação, ao sair do banheiro.

Descontrolada e chorando muito, Jéssica Cristina Sanches, 20 anos, nega que esteja envolvida no crime. Acusada de participação no assassinato, a garota de programa diz que não sabia o que estava acontecendo no andar de cima da casa, onde o crime foi cometido. "Eu não fiquei lá. Estava com pressa. Não sabia que elas iam fazer isso", comentou ela. Em prantos, a indiciada disse que não procurou a polícia para denunciar a morte por medo.

Já Diego assegura que não sabia das intenções de Poliana, embora as investigações apontem a premeditação do crime, quando ele e a principal acusada foram até a casa da vítima horas antes de Kelli ser golpeada fatalmente. "Não sabia", disse.

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