23 de janeiro de 2010

O QUE MUDOU e O QUE PRECISA MUDAR EM SANTA LUZIA? AS DANÇAS SALUDOPÀ E LUZIENSE



E, continuando a postagem de hoje sobre as boas e péssimas mudanças na cidade, vamos falar de duas tradições luzienses que foram esquecidas ao longo desses últimos anos: A Dança Luziense e o SALUDOPÁ. Pra começar, vamos lembrar que a cultura é a identidade de um povo. Manter as tradições culturais, além de valorizar a existência de uma sociedade faz com que ela se diferencie e se torne singular dentro de uma vastidão de crenças, culturas e artes.

Transcrevendo o meu amigo Naldo Blandt, um dos pensadores e criadores do SALUDOPÁ:

“ Por incentivo da Escola Florentina Damasceno em 1992, através das professoras Benedita Saldanha e Olímpia da Luz (in memorian), uma turma de alunos da primeira série do ensino médio, exercitaram uma alternativa de manifestação artística, para que o município tivesse uma identidade cultural voltada para a valorização local, assim nascia o SALUDOPÁ, que significa SA de Santa LU de Luzia, DO de do e PÁ do Pará. O SALUDOPÁ se manifestou de forma impactante para a cultura local naquele momento histórico, recebeu críticas, elogios, sugestões e até concorrente, o que demonstrava a sua excelência artística e possibilidade de gerar a primeira manifestação da cultura local. A musicalidade do SALUDOPÁ é uma composição entre o carimbó e a lambada, formada por casais que se manifestam dançando em coreografia sistêmica da sensualidade em conjunto, onde um passo de dança é tradicional, porém se deriva em outros passos, que enriquecem ainda mais a sensualidade da dança entre um homem e uma mulher”.

Quem de nós, os estudantes empolgados da Escola Florentina não lembramos dos versos que balançavam a plateia da pequena cidade extasiada com os passos num movimento perfeito mais parecido ter sido produzidos por dançarinos profissionais?

“SALUDOPÁ é uma dança típica do lugar”...
“SALUDOPÁ é uma dança de Santa Luzia do Pará”

Nós, nos empolgávamos em junho em dia de apresentação lá na quadra da escola. O mês junino, na Florentina, recebia a família luziense para presenciar a maior expressão cultural do município. Entre lundus, quadrilhas e carimbos, o SALUDOPÁ e a DANÇA LUZIENSE, fizeram história. Eu era estudante do primeiro ano do Ensino Médio, naquela época, o famoso Magistério, e a cultura era incentivada dentro de sala por professores que, num gesto solidário à cidade, influenciavam as mentes dos jovens, que como eu, aprenderam a cantar e dançar os empolgantes passos das danças do lugar. Criamos a dança Luziente, concorrente ao SALUDUPÀ – concorrente nos aplausos porque eu, o Naldo e a Simone Costa éramos amigos e não dávamos espaço as intrigas comuns nos dias de hoje. Estávamos em sala de aula àquela tarde, ainda lembro. A Docéu, a Thaisa, a Rubenice, a Deijane do seu Zé Martins e outros estudantes que compunham a turma junto de nós. A Rubenice criou os passos, a forma de dançar, escolhi o ritmo, escolhemos a roupa, eu criei a letra e mandei gravar a canção - inclusive a primeira versão foi produzida com a minha voz porque não tínhamos dinheiro pra pagar um cantor, pensamos na Luzia Chaves, mas ela não tinha tempo e prometeu que nas próximas versões faria a letra e a canção e assim foi feito. Rio quando lembro da nossa loucura, eu a Shirley e a Docéu, lá no estúdio:

“Quero ver, quero ver, quero ver”
“Quero ver você dançar”
“A dança luziense, a dança do lugar”

“Ó Santa Luzia de ti vou me lembrar”
“Pois desde criança aprendi a te amar”.

Ficou horrível mas dançamos na maior felicidade. Mesmo porque, a dança concorrente, o SALUDOPÁ, era criticado por, no seu segundo ano, ter tido feito uma paródia de uma música que era uma espécie de hino da cidade de Bragança e o povo falava que era chato fazer uma canção pra representar a cidade sendo que a letra era de uma outra cidade do estado. Ai, nós não queríamos correr esse risco e perder pontos. Assim, fizemos assim mesmo, improvisado. E fizemos bonito. Só no segundo ano a Luzia Chaves gravou a canção e o sucesso foi instantâneo. Lembro que na época do lançamento, o prefeito era o Juracy Araújo e no segundo ano de dança, o município já era administrado pelo prefeito Nato Costa e ele nos entregou o prêmio de excelência da cultura luziense bem como entregou também aos os meninos do SALUDOPÁ.Tiramos dez nas disciplinas que aceitavam a dança como avaliação e marcamos a história cultural do município.

Essa falta de incentivo aos projetos de expressão cultural de Santa Luzia, como a Dança Luziense e o SALUDOPÀ eu considero uma mudança infeliz para a cidade. Portanto, fica aqui a minha crítica explícita ao poder público que, desde a cassação do prefeito Nato Costa, não tem incentivado a quadra junina e nem as danças do nosso lugar. Péssima mudança. Infeliz realidade. E, pra quem acha que retomar essas tradições é impossível, vou parafrasear o Naldo Blandt mais uma vez quando o amigo, num de seus artigos, disse:

“A história da arte sistêmica entre música, dança e poesia no Pará é um dos alicerces brasileiros e suas influências na globalização artística, e o SALUDOPÁ pode ser um fundamento desse sistema. Basta a sociedade luziense acreditar, desejar e realizar esse sonho”.


Na primeira foto: o casal Keila e Biro-Biro, par de dançarinos da Dança Luziense
Na segunda foto: as amigas Cassiana e Hélia numa pose pra lá de engraçada depois da apresentação do SALUDOPÁ

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