22 de março de 2010
PERSONALIDADE LUZIENSE: EDNO ALVES
E num desses dias em que o 47 nada apresenta de interessante. Numa dessas noites ao término da missa dos jovens, quando todos já visitaram a praça e seguiram rumo a suas casas, a vida me surpreendeu com uma conversa. Eu estava esperando a carona para o aniversário da Nega, quando vi que ele se aproximava de uma maloquinha para comprar um sorvete. Sozinho, o que nunca foi de costume. Vazio. Calado. Quieto, o que me fez estranhar a diferença num cotidiano que eu sempre presenciei em dias normais. Pediu um sorvete, degustou do sabor da fruta, olhou para as poucas pessoas ali por perto e me sorriu gentil e puro. Fiquei emocionada. Devolvi o sorriso e ofereci um abraço. Ele aceitou. Chegou junto de mim. Olhar de perda recente. Solidão de pai que perdera o filho. Sofrimento de homem que perdeu a vergonha de chorar. Me debrucei no seu ombro, senti o seu pulsar e percebi o tamanho da sua dor. Calamos durante alguns segundos até começarmos uma conversa daquelas que só em dia sem luz elétrica encanta mais uma menina que um dia eu fui. Chama-se Edno Alves. Filho único. Fruto do Estado do Maranhão. Nascido em família carente. Pai bruto, mãe gentil. Fora carpinteiro, cabo do exército, atuante em serviços gerais de algumas empresas, ajudante de pedreiro, gerente de loja e, hoje, empresário – dos grande, diga-se de passagem. Eu já o conhecia, mas não assim, tão de perto. Tão carente e tão emocionante. Paramos no cantinho da praça da matriz e ele me confessou a sua vida, desvendou segredos sobre a família e me encantou com suas palavras de pai, filho, marido, empresário, homem e sonhador. O Edno é um homem digno, vi no seu olhar abatido, depois de não se sentir mais à vontade pra mentir sabendo que a vida, às vezes, pode ser mais cruel do que se pensa. “Sou filho único e não tenho nem pai nem mãe. Os dois morreram e eu me danei a fazer filho, por isso tenho tantos. Medo de ficar sozinho, ao léu na vida.”, palavras dele. “Minha mãe me ensinou tudo o que eu sei, aprendi na marra e na dor com meu pai e com ela fui educado com afeto e carinho”. “Sou honesto por ela e, apesar de muita gente achar e dizer que sou matador, eu nunca fiz mal pra ninguém. É só puxar a minha ficha, eu nunca nem briguei com ninguém. Por onde chego sou recebido com festa. Nos lugares que morei sempre fui muito popular e as pessoas gostavam de mim. É só você pensar em Santa Luzia mesmo, mal eu cheguei e as pessoas já me tinham como um amigo”. O Edno é muito conhecido pelo seu jeito único de empreendedor: é dono de grandes serrarias, tem empresas conhecidas no norte e nordeste e já chegou a exportar madeira para o exterior, tem imóveis, terras e é proprietário de muitos bens, mas o que mais se destaca nesse homem grande e rico é, sem dúvida, a humildade. Veio até a mim de pé, sem seguranças, acompanhado apenas por seus pensamentos no filho que acabara de morrer num acidente ali, na cidade que ele mesmo escolheu pra construir a sua vida e educar os seus filhos. O Kayo estava estudando em Belém e queria ser médico, ele, o Edno, como grande pai que é, disse ao filho, “Se não passar na pública, tem problema não, se a mensalidade for cinco mil, o dinheiro estará na conta todo mês, é só você ser aprovado!”. Mas o destino apagou os sonhos do pai e do filho assim, sem avisar. Ele agora quer investir e cuidar dos que ainda não foram. O Edson Neto está na capital e faz direito, o Kayke quer seguir o mesmo sonho do irmão e ele acabou de ganhar uma filhinha novinha em folha, dado a ele pela Fia, luziense, desde criancinha. “Um filho não substitui o outro, mas eu estou dedicando todo o meu amor pra essa pequenina que acabou de chagar!”. O Edno me emocionou a cada vez que abriu a boca e retirou de si os medos e desejos, os sonhos e as realidades. Sobre a vontade de ser prefeito e a carreira política me confessou: “Foi o seu irmão, o Nando, que me meteu nessa vida. Eu sou um cara muito tímido e morria de medo de falar em público, um dia perguntei pra ele se eu podia ser candidato sem precisar fazer discurso e ele disse que era impossível, lascou-se, eu pensei. Achei que eu não ia conseguir, eu queria ser político mas não sabia falar, sou caboclo, você sabe, ganhei muito dinheiro mas sempre fui um cara meio bruto pros estudos. Lembro da primeira vez em que falei num palanque, eu rezei antes da hora e, até mesmo antes de sair de casa, me tranquei num quarto lá da fazenda e pedi pra Deus me ajudar!”. Foi o que me declarou aos risos. O Edno foi candidato à chapa do PSB junto com o Nando que encabeçava o nome para prefeito, mas os dois não obtiveram sucesso. Depois disso, o Edno passou a ser um grande nome na política luziense e foi também candidato a vice na chapa do 22, partido do Mico Oliveira, mas os dois amarguraram a tristeza de ter que perder historicamente por uma diferença ínfima de 69 votos. Quando perguntei se estava arrependido de ter participado das campanhas ele me respondeu: “Não, nem um pouco!”. Perguntei quanto ele estima ter gastado com a política até hoje e ele disse que mais de um milhão e meio. Eu fiquei assustada, perguntei se ele teria coragem de gastar tudo isso de novo. Se você tivesse a chance de voltar ao tempo e ter em suas mãos esse um milhão e meio o que faria? “Gastaria do mesmo jeito, é o meu projeto, um sonho, uma vontade, e sonhos não têm preço!”. Sobre o futuro político, ouvi desse amigo: “Quando o Kayo morreu, pensei em desistir, eu me senti culpado por muita coisa e achei sensato deixar de cuidar dos outros pra passar a cuidar dos meus. Na tristeza da perda de um filho, muita coisa passa pela cabeça da gente e eu prometi que nunca mais me meteria em política, claro que eu não disse isso pra ninguém, fiquei só comigo. E aí, depois que passou o velório e o coração abatido, mas vido ainda, repensou no assunto, eu decidi que agora seria uma questão de honra. Na política eu terei muito mais influência pra salvar a vida de muita gente que agora sendo só empresário eu já ajudo. Ajudo com dinheiro, comida. Na política poderei ajudar com saúde de qualidade, educação e muitos deixarão de morrer se eu estiver eleito porque eu vou poder fazer melhor pela saúde. É o que penso agora.” Ele me disse que desde muito tempo, 40% de sua renda mensal é destinado para doações: “Ajudo o povo, não me faz falta!”. “Sinto dó dessa gente que tem menos, muito menos que eu!”. Me contou que um dia uma senhora reclamou que ele a ajudava pouco e que, por isso, não votaria nele e ele respondeu à sua indignação: “Não ajudo a senhora pra que vote em mim, senão dava o que precisas, só às vésperas da eleição, ajudo pra que Deus fique contente comigo e me ajude a ter um pouco mais de glória na vida! A mulher ficou sem saber o que falar.
O Edno Alves de fato é um homem surpreendente. Conversando comigo me chamou de autoridade das línguas. Humilde, me abraçou várias vezes e me presenteou com muitos sorrisos e, ao final desse longo papo, me agradeceu com um abraço que só os amigos sabem dá, aquele apertado de quem diz: saúde, viva e boa sorte. É o que eu te desejo também, meu amigo. Boa sorte. Sucesso na vida! Fica com Deus. Que tua mãe olhe por ti e cuide da tua família!
Fui um prazer ter me emocionado contigo. Talvez tu não saibas e talvez nem saberás, por que tu mesmo me confessaste que não sabes mexer na internet, mas eu aprendi grandes lições contigo nessa conversa. Achei bonito cada passo do teu desabafo e me orgulho em saber que deixaste tudo pra escolher a minha cidade como o teu lugar, a tua casa, o teu abrigo.
OBS: O Edno já está morando no 47 há 15 anos e por isso estou incluindo-o na lista de personalidades luzienses. É só pra retribuí-lo pela escolha!
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Um comentário:
Realmente o Edno é um ser humano fora do sério. Humilde, dígno e amigo dos amigos. O conheço, como amigo, há uns 10 anos e sempre foi a mesmíssima pessoa. Nunca o dinheiro subiu-lhe à cabeça, sempre teve as mesmas atitudes, sempre ajudou os que realmente precisam sem cobrar-lhes nada dem troca. É um grande homem.
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