1 de fevereiro de 2010

PERSONALIDADE LUZIENSE: EDSON MARTINS


Eu não sou tão idosa assim e, por isso, não vivi muitas histórias que só os meus irmãos mais velhos sabem contar. Me embriago nos dias de Natal quando a turma lá de casa está toda reunida e começa a narrar aquelas velhas piadas de infância. O tempo pra mim é desconhecido, mas os personagens, esses eu os conheço porque conviveram ali em casa com os meus irmãos e, por influência deles, nós os menores, fomos aprendendo a conhecer. A Eulália, o Nando, a Jesus, o Chico e a Luzia, sempre riem muito das prezepadas feitas na adolescência quando o 47 ainda era vila e pertencia ao município de Ourém. Ruas e ladeiras, lugares e acontecimentos que eu formato na cabeça ouvindo os blábláblás desses meus irmãos. Jovens que naquela época faziam do 47 um lugar de dar inveja às historias de Robinson Crusoé. Foi num desses dias que eu ouvi falar de um cara chamado Edson Martins, a nossa personalidade luziense de hoje. Minha irmã me contou que ele era um dos meninos mais cobiçados da cidade. A outra me disse que ele era um rapaz lindo, daqueles de tirar o fôlego e tem até aquela que afirmou que muitas moças sentiam inveja da Rosana por ela ter fisgado o formoso rapaz. O Nando, em visita à Belém, me confirmou que sem o Edson Martins, a cultura de Santa Luzia jamais seria a mesma. O Edson era um jovem atuante, um dos primeiros a se inscrever e a participar da Pastoral da Juventude no lugar. Atuante nos movimentos estudantis e religiosos. Organizou e fez acontecer o Show do Guri, um espetáculo que segundo os mais velhos, era o maior sucesso pelas bandas de lá. O rapaz, com sua astúcia, organizava e direcionava o evento, que mesmo pago, lotava o Salão Paroquial em dias de apresentação. Dizem até que a Corrinha, uma de minha irmã, fazia o maior sucesso com suas interpretações para as canções do Kid Abelha. Plateia lotada, meninada que conhecia a cultura ainda pequena. Os pais adoravam a ideia daquele jovem porque seus filhos não ficavam ociosos e ganhavam o direito de mostrar os seus dotes artísticos. Foi do Edson também a parceria com a pastoral para a encenação da Paixão e Morte de Cristo, peça que marcava a data da Páscoa em Santa Luzia. Teatro. Leitura. Cultura. Política! É, política. Não sabemos como, de que forma, os jovens daquela época, tão distantes dos acontecimentos do Governo Federal, conseguiram ser tão engajados politicamente. Parece até que eles nasciam pra isso. Eram autodidatas politicamente. INTELECTUAIS e politizados. Há pessoas que nascem, leêm e viram intelectuais, outras nascem intelectuais e leêm para manter a sua intelectualidade - o Edson Martins é uma dessas pessoas. Aluno como os demais de sua época, ele era apenas mais um daqueles que esperavam o ônibus na Br 316 pra ir ao E.O.B, a escola Professor Oliveira Brito, em Capanema. Mas um garoto à frente de daquele momento. Ele não viu de perto os desmandos dos coronéis nem o autoritarismos dos militares em 64, mas sofreu com os resquícios ideológicos que o período iria deixar. Segundo o próprio Edson, sua juventude conseguiu viver vário momentos da história brasileira sem perceber a influência que aquilo iria causar. Ele e seus amigos, mesmos a quilômetros de distância da capital brasileira, estavam muito perto do momento histórico que foi a Ditadura no Brasil. Assim que o Edson Martins, buscando nos documentos de Puebla, no livro de Jorge Boram, o livro Juventude o Grande Desafio, criou pra si uma ideologia formatada via Teologia da Libertação. E, assim, participou ativamente da Cruzadinha - um engodo no momento da Igreja católica fazendo ilação às Cruzadas. Mas como conhecer isso tudo num momento tão precário? Num período em que não se ouvia falar em computador, internet? O que dizer de um cara que, convivendo num lugar a 200 quilômetros da capital do estado e a 2000 quilômetros da capital do seu país, conseguiu ter e solidificar ideias tão politizadas? O Edson é admirável. Um daqueles guerrilheiros que nascem, sabe Deus porque, com cara e jeito de Che Guevara. Tem instinto de cubano, a la Fidel Castro. Fala como os atuantes na Guerrilha do Araguaia. Tem cabeça de jovens rebeldes. Ele viveu esses anos, os da REBELDIA, junto com o Tomé, o Zé Valmir, a Lúcia Machado e outros que nasceram para ser da esquerda, com mente de revolução, ideias de guerrilhas, sede de justiça, vontade de participação, engajamento e marcou a nossa história. Seu nome está nos contos, mitos e curiosidades desta pequena e, hoje, grande cidade. Casou-se com a Rosana, mulher que junto dele reescreveu a cultura luziense. O Edson, creio eu, é jovem de muitos conceitos, significados vindos das leituras que ele sempre buscou pra entender e participar da sua história. Das poucas lembranças que tenho dele, dos poucos momentos que consegui registrar desse cidadão, uma não me saiu da memória. Lembro de mim passando pelo corredor da pequena praça em frente à igreja, quando ela ainda tinha arquitetura antiga, os bancos de mármore, canteiros cheios de plantinhas mortas, o capim imitando a grama, o chão de cimento batido...Eu ia ao chamado do tradicional sino da Matriz, ele e suas três batidas avisando o horário da missa das crianças em sábados de catecismo...Eu me direcionava aos ensinamentos do Padre Rafael e enxergava o Edson sentado no banco frio e velho, de pernas cruzadas, de barba mal feita, com um folhetim em mãos, concentrado com a sua leitura, pose e jeito de Capitão Lamarca, sei lá, um cangaceiro, talvez. Ele lia “Caros Amigos”, um folhetim que chegava via correios entregue pelo Edi, ensacado com a inscrição do único luziense a fazer aquela assinatura, eu sei, pois ninguém lia aquilo, só ele. Eu ia pensando na cena e, já na igreja, enquanto eu ouvia os sermões do pároco, ele, do lado de fora, ria das charges do Pasquim, conhecia as críticas da política nacional, os desfechos dos pleitos estaduais e os ideais socialistas e comunistas. Ali, sem saber, o Edson marcou a minha memória. Tanto que quando eu vim estudar na capital, o professor de história, tão revolucionário quanto ele, nos incentivava a ler algo que prestasse. “Leiam Caros Amigos”, ele dizia. E eu, da carteira pensando...de onde o Edson ganhou esse gosto? Quem apresentou a ele essa cultura? Quem cultivou nele essa mentalidade? Ele não é formado e não cursou a universidade. Só hoje entendi que, como todo bravo guerrilheiro e intelectual, diploma mesmo, sei bem, nunca lhe fez falta - e não faz, pois, como eu já havia dito: uns estudam e ganham conhecimento, outros, nascem já conhecendo. O Edson é um desses caras. Eu o admiro por saber coisas que em cinco anos de faculdade, eu não soube aprender!

Um comentário:

Anônimo disse...

É minha cara vc esqueceu de citar os milhões acumuldaos por ele nos últimos quatro anos, quando construiu uma mansão de veraneio no km 18 e comprou por 150 mil reais a fazenda do Dr Manassés perto de Capanema. Também esqueceu de citar a habilidade desse rapaz em surrupiar dinheir público.