3 de fevereiro de 2010

Belém...um continho!!!


Foi assim que eles, um dia, se conheceram. Ela, uma típica caboclinha da Amazônia, nascida por entre águas da baía de Guajará, vinda dos gritos frenéticos trazidos pelas dores de uma mãe que suava pingos amarelados cor de tucupi. Ele, moleque vindo das regiões interioranas, ribeirinho daqueles que desafiam a morte nas ondas que arrastam os popopôs vindos da ilha de Cotijuba. Eles haviam de se encontrar, cheiros e mistérios trazidos da mata num pulado rápido do curupira, encantavam o caminho daquela infancia e, por entre as águas daquele canal, a vida vai pregar aos dois uma surpresa. O cenário foi a capital do estado, a Cidade das Mangueiras, nosso leque de estrelas, Belém do Pará. Ali, nas ruas, ainda sem asfalto, do bairro da cremação, via-se de um lado, a chuva, e de outro, os meninos aventureiros das piras e brincadeiras que faziam do bairro um lugar pra lá de feliz. Em dias de chuva, as ruas de piçarra viravam rios, moleques disputavam com os ratos a madeira que dava ao caminho seco. O canal transbordava e a meninada aproveitava pra testar a habilidade do nado: peito, braçada, borboleta. Águas escuras de esgoto que faziam a alegria das crianças que, com um remo improvisado, disputavam corrida de barco nas embarcações feitas de carcaças de geladeiras. Menino de sorriso largo, moleque sapeca que corria atrás de muçum na lama pra fazer medo pros menores. Menina breada com água da vala, saia com os folhos engatados na calcinha pra não atrapalhar a corrida nas cruzadas do taco na disputa de tacobol quando a bolinha acertava em cheio a garrafa de dois litros da coca cola jogada no canal e que, na chuva, vira brinquedo também. Os dois pulavam no rio que cobria a rua por cima da beirada que segurava o mato, quando a pequena bola da queimada, vinda numa velocidade feroz, jogada pelos moleques que jogavam cemitério do outro lado do canal, atingiu a marajoarinha em cheio... A menina tombou pro lado com a cabeça sem coordenação, num sinal de desmaio. Ele nadou feito boto, mas o rio tinha correnteza e aí, o menino-peixe, foi arrastado pelas águas feito cobra desenfreada, segurou na estaca da ponta da piçarreira, engatou os pés na porta de um freezer velho e direcionou a ela que vinha arrastada pelos sacos de lixo vindos pelo canal. O rio é rua também e ela caminhou pra sua salvação. Os dois chegaram à beira, quando, ainda criança, ousaram dividir aquele primeiro beijo...Beijo bom. Sabor de jambú misturado com pimenta de cheiro. LINDO!!!

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