29 de março de 2010

PERSONALIDADE LUZIENSE: NEGUINHO DO COCO


Muito há de mitologia sobre o que eu um dia ouvi sobre ele. Muito há de mistério sobre a sua vida. Há muitas informações desencontradas e muita coisa que realmente ficou e sempre ficará obscura, mas que não tira dele a capacidade de nos tornar um curioso e um admirador de sua personalidade. Nos meus tempos de criança o nome Neguinho do Coco era meio que lendário. Uns falavam sobre riqueza e trabalho, outros falavam sobre miséria e ilegalidade. Eu nunca soube direito o que ele era mas a sua imagem sempre me causou muito medo. Creio que no 47 todos os que moravam por ali sentiam um certo receio desse homem. Na realidade, naquela época, o Neguinho era uma imagem difícil de se ver e de se descrever, mas muito comentada por todos na pequena cidade que sempre, desde muito tempo, gostou de criar mitos. Foi assim com o estuprador do bairro novo, quando abusos e estupros foram criados mitologicamente, a cidade inteira entrou em pânico com situações e histórias que viraram lendas. Foi assim com o seu Antônio Mineiro da Boa Esperança que, segundo muitos, arrancava o fígado dos moleques que invadiam a fazenda para roubar frutas e tomar banho de igarapé. Foi assim com o inesquecível Ozório que foi o lampião luziense durante muito tempo. As histórias metiam medo em nós. Os contos faziam a gente tremer na base. Certo que muita coisa também aconteceu, mas foram também recriadas pelo imaginário de um povo que ocioso e cheio de tradições amazônicas aumentou os fatos pra tornar mais interessante aquela vida ociosa de interior. Pessoas que na beirada das calçadas ou em suas cadeiras de balanço fizeram das narrativas urbanas e rurais contos espetaculares com sabor de medo, mistério e morte. O Neguinho nunca foi “boa peça!”, dizem os mais velhos, porém concordemos, que muitas perguntas ficaram esse tempo todo sem respostas: Que crimes de fato ele cometeu? Que provas reais temos contra ele? Seu nome se tornou lendário pelas ruas da pequena vila do 47 e ele virou o jagunço luziense mais famoso pelas bandas de lá. Se são verdades só ele mesmo saberá. Só sei que entre verdades e mentiras eu cresci tendo medo desse homem. Ouvia tanta coisa que me dava pânico encontrá-lo na rua. E, mais tarde, quando eu já caminhava com as minhas próprias pernas e já conseguia tirar as minhas próprias conclusões, eu o vi cercado de gente, caminhando pelas estreitas avenidas da minha cidade tendo o seu nome aclamado pelo povo. O nosso Quintino, virou O Sasá Mutema da população carente e desejosa de uma solução para a miséria que a acometia. O vilão virou mocinho e estourou a boca das urnas nas eleições. Seu nome na chapa é sinônimo de votos nas eletrônicas. Seu discurso no palanque virou símbolo de empolgação. O Neguinho do Coco agora é o vereador espoca urna. Audacioso, ele não tem lado certo. Causa surpresa em cada preito. “Não estou do lado de cá nem do lado de lá estou pra onde o povo me manda, faço o que a população pede e quer”, palavras que um dia eu ouvi dele, empolgada. O vereador Neguinho é uma incógnita. Candidato independente, nem o partido manda nele. Ousado só faz o que quer. Me parece um político que não entende muito de política mas que faz a política como ninguém. Já o vi em passeatas e carreatas sozinho, direcionando a multidão no rumo que deseja. Em Santa Luzia, os partidos têm a sua campanha e o Neguinho tem a dele. As coligações têm a sua carreata e o Neguinho tem a dele. As alianças têm a sua passeata e ele tem a dele. É uma figura engraçada, um político que defende as suas ansiedades e todas as dos que estão ao seu lado. O povo clama por seu nome e ele é hoje o que chamamos de político popular. Tem uma popularidade impressionante. Um carisma indescritível. Um legado de amigos e eleitores incontável. Uma garra e uma vontade impressionantes. Ele é o “desertor” que aprendemos a admirar. O “réu” que a historia absolveu. O pai que aprendeu a exercer seu papel com o tempo e com as perdas. Sua imagem foi reconstruída com os pincéis da vida. Depois da morte do Jamilson, o seu filho, o vereador Neguinho do Coco não conseguiu mais ser o mesmo. O homem duro e onipotente jogou as cartas na mesa, decidiu recuperar a família e reconstituir a sua face. Muito se comenta sobre a sua mudança. Muito se espera das suas atitudes. Muito se deseja de sua coragem. É uma personalidade Luziense cuja vida foi exposta, julgada e condenada várias vezes, mas que me parece, tem tido tempo pra rever as coisas e repensar no que ainda vem pela frente. A morte do filho querido deu chance pra vida mostrar o que ele não havia enxergado ainda. E aquele personagem malvado da novela real, tem se tornado aos poucos, no protagonista de outras belas e engraçadas histórias. Todos temos o livre arbítrio para o erro ou o acerto, erramos mais que acertamos, eu sei, mas poucos de nós temos chances de voltar atrás enquanto é tempo. Com ele não foi diferente, o que não é igual é que ele tem tido tempo sim pra provar o contrário. Daqui por diante, só o tempo dirá. Não sou sua amiga, nem eleitora, mas reconheço que ele tem dado a volta por cima. Se tem caráter ou é honesto eu não sei, mas que está bem melhor, isso ninguém pode negar.Quando eu vou à Santa Luzia hoje, o vejo de longe ou de perto e sua imagem já não me assusta mais. Num desses carnavais em que eu estive por lá ganhei um abraço apertado dele e fiquei feliz. Vivi na infância com os seus filhos, fui aluna de sua esposa, a Professora Vanda, por quem guardo um carinho imenso e fico contente em saber que a vida me deu oportunidade de escrever sobre ele agora. Boa sorte, vereador. Reconheço os seus defeitos e me agrado em saber de suas qualidades! Fizeste história e por isso é hoje, a personalidade luziense homenageada! Aos eleitores a escolha. Ao senhor, desejo que a vida lhe dê mais chances. Até mais!

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