29 de março de 2010

Entre risos e lágrimas, quem ri por último ainda é aquele que rir melhor.

Mais um de meus textos para a publicação do Jornal O Liberal:



Sobre o choro e Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella; o riso de descaso de Carlos Eduardo Nunes, o assassino confesso do cartunista Glauco e a declaração repugnante de Marcola, o chefe do PCC, um comentário: até quando o Brasil vai ter que engoli a seco o deboche irritante da impunidade nesse país? Assassinos frios e calculistas que agem num momento de insanidade mental e saem por ai atirando, matando e destruindo lares, famílias, pessoas, vidas! Três episódios que marcaram a jurisprudência brasileira e que colocaram em xeque a seriedade das instituições que lidam com as penalidades legais: a justiça brasileira – que segundo muitos além de cega, está caduca e já nem ouve mais. Dias antes do julgamento mais falado, divulgado e esperado do país, vimos paralisados e indignados o sorriso de deboche do assassino de Glauco que acostumado, como nós, a desacreditar na justiça riu sem medo desafiando as grades e os policiais que o detinha depois de ter atirado seis vezes e destruído sonhos e famílias. Mas quem assistiu às cenas do rapaz que se dizia o enviado de Deus, talvez tenha lembrando daquele que seria talvez o enviado da entidade oposta, o Marcolla, chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital, facção criminosa que em um único dia matou 30 policiais civis e militares) que numa conversa depois de detido pela policia ameaçando delegado que o interrogava, explodiu: “Eu posso entrar numa delegacia e matar um policial, mas um policial não pode entrar na cadeia e me matar, pois é obrigação do estado me proteger”. Por essas e outras, o choro da mãe da menina Isabella também é nosso desde o dia em que percebemos o caos e a falta de atitude da polícia no Brasil. O riso e a frase desafiadora de Marcola e Carlos Eduardo, passou a ser de todos aqueles que continuam impunes mesmo tendo agido contra as regras da lei. Se é com indiferença que ela trata os desertores, é com descaso que eles a olham e com risos que eles zombam da sua incapacidade em punir e prender aqueles que tentam contra suas normas.
A condenação dos Nardonis veio num momento delicado em que a sociedade já deu provas de que não confia mais na justiça e está desacreditada na legalidade, mas deixa claro a todos nós que não devemos debochar da lei não - rir da cara dela é audácia demais. A mãe dos justos pode até ser cega mas ouve perfeitamente e tem um tato bastante aguçado, e, talvez por isso, não tenha estado presente no momento do morte da menina Isabela, mas ouviu de forma perfeita o clamor das provas que não deixaram dúvidas: Ouve crime, ouve culpados e por isso foi preciso condenar. Àquele que mata e age de forma criminal e ilegal a punição, o castigo, a cadeia. É preciso evidenciar isso, 31 e 26 anos respectivamente foi o número que condenou os réus por infringirem os incisos da lei. Cadeia aos que riram da constituição. Algemas aos covardes que agiram de má fé e de forma desonesta. Grades aos desertores. Prisão àqueles que matam, roubam e perturbam o bem estar comum e social. Condenar, aprisionar, provar que existe sim punição é importante para lembrar aos que debocham da nossa jurisprudência que a impunidade tem seus dias contados, que burlar a lei nem sempre dá certo, que contra fatos não há argumentos, que todo crime tem um preço. A sentença dada ao casal é mais uma prova de que não existe crime perfeito e que a justiça ainda persiste em julgar e condenar. É necessário declarar aos quatro cantos que nem todo crime ficará impune e que a justiça pode até ser cega, mas está de olho. Condená-los serviu também para que voltássemos a crer e confiar na instituição suprema de justiça brasileira num momento em que muitos de nós, os cidadãos, já estávamos nos adaptando à ideologia do olho por olho e dente por dente. A justiça pelas próprias mãos, a barbárie e o desespero. Nosso peito estufa o orgulho em saber que a impunidade não é mais uma constante. Nosso senso de justiça está honrado. O Brasil, enfim, mostrou a sua cara.

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