18 de fevereiro de 2010

"CRESCIMENTO"?


Fui ao 47 fazer algumas entrevistas e conversar com algumas pessoas sobre a realidade, os desafios e conquistas da cidade. Tinha a intenção de trazer boas notícias, de fazer algumas fotos e postar muitas novidades. Gostaria de ter feito mais, porém a fatalidade que assolou o peito de cada um de nós que esteve lá no carnaval me fez calar durante o final da semana inteiro. Engasguei diante de tantos fatos concluídos, emudeci perante tanta coisa que vi e senti ali, na cidade da minha infância. Violência. Tragédias. Falta de água. Política. Muita coisa está errada. Tenho vontade de gritar, pedir socorro, implorar ajuda, mas parece que tudo é em vão. A cidade cresceu e junto dela uma onda de péssimas imagens destroem a paz e a alegria nas ruas e avenidas do 47. Dei uma volta no Sítio do Padre pra fazer umas fotos e matar a saudade e fotografei o que a muito tempo parecia um pesadelo, um sonho de muito mau gosto é hoje, real: um invasão. Ali, aos arredores do bairro do 46, as casas surgem desorganizadas em ruas rasgadas de forma irregular sem qualquer tratamento de esgoto ou infra estrutura – as pessoas não têm saneamento básico naquele recém chegado bairro. Poços cavados no meio dos caminhos que dão aos barracos, luz elétrica irregular, crianças misturadas a porcos nas poças de lama. Famílias que se alojam sem descontrole por detrás do cemitério embaixo de casas de barro e cobertas com lona. Terrenos cercados com arame farpado. Casas em alvenaria e barrancos: uma favela. Fruto do crescimento, afirmam alguns. Crescer sem desenvolver, sem preparar é perigoso. Demais. A prefeitura tem que ter ordem e deve agir com seriedade. Favela, gera miséria e pobreza causa a violência gritante, nas grandes e pequenas cidades. Há que se ter um controle. Cidades que crescem de forma horizontal num processo de favelização geralmente têm seu contingente populacional na mesma proporção. Estamos crescendo em tamanho, em população, em número de habitantes e, consequentemente, em problemas também. Por isso essa violência instalada. Por isso problemas como assaltos, sequestros, assassinatos, arrombamento e roubos por toda a parte. A cidade “cresceu” e ficou a mercê da sorte e por conta da renda única do comércio e da prefeitura. Não se tem outra opção em Santa Luzia. Ou se é funcionário público ou se é comerciante. E isso é um absurdo. E essa leva de gente que chega por lá, como é que fica? E esse bando de forasteiro que chega e finca o pé numa invasão qualquer, vai viver de quê? Do vandalismo, é claro! Será que é difícil de se chegar a uma conclusão tão óbvia? A tendência é piorar. Ou se tomam decisões urgentíssimas ou a população de origem, que já estava, inclusive, acostumada com a paz no lugar, vai pagar o pato. Antes, até podíamos falar em outras opções como por exemplo a necessidade de mão de obra exigida pelas serrarias, mas com a crise no setor gerada pela maior fiscalização e a crescente agressão ao meio ambiente, esse ramo de trabalho na cidade já encontra resistência e declínio. A prefeitura sozinha não vai suportar e o comércio, tradicionalmente familiar, só emprega os seus. A tendência, portanto, é o caos social. Ou providências são tomadas ou no futuro, vamos ter que nos acostumar com a cerca elétrica, o alarme e os guardas noturnos. Sem contar que nossos filhos terão que se acostumar de vez aos vícios da modernidade, computadores, jogos e afins, pois daqui há algum tempo, ficar no terreiro ou em frente de casa, será muito perigoso, mas muito perigoso mesmo!

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