18 de fevereiro de 2010

Gente que faz falta: DONA ROSA


Estamos, a partir de agora, lançando mais uma página no blog: PESSOAS QUE FAZEM FALTA. Uma série de textos serão expostos aqui a fim de relembrar algumas figuras que marcaram a história do lugar, mas que já se foram deixando boas e inesquecíveis lembranças. Gente que, de uma forma ou de outra, sempre será lembrada por muitos moradores desta pequena cidade de Santa Luzia por ter vivido e marcado o coração de muitos de nós que permanecemos por aqui e os lembraremos com o peito cheio de alegria e saudade. Pensei em tanta gente, mas vou começar por uma pessoa que invade meu coração sempre que passo na avenida Castelo Branco – a dona Rosa, senhora que vendia chop e laranjinha em sua casinha em madeira e que nos encantou e encheu de amor desde a melhor época: a infância. Como ela, muita gente nos deixou e partiu para os altos junto do Pai. Muita gente se foi muito cedo pra longe de nós e faz muita falta. Mas vou começar pela Dona Rosa porque devo muito a ela. Muitos sorrisos, muitas palavras e muitos, muitos ensinamentos que ela, sem saber, a mim direcionou.
Não tenho e não consegui uma foto sua mas seus traços perduram firmes na minha memória. Vivos, como se fossem retratados ainda com aqueles meus olhos de criança levada que entrava em sua casa pra comprar um saquinho de quick congelado e pudesse olhar aquela senhora corcunda de cabelos longos e brancos, de olhar leve, olhos brilhantes e calmos, claros, cor do céu. Aquela velhinha bem arrumada vestida com bata bem passada de flores em cores tranquilas e babados de renda e cambráia. Eu não esqueço o seu sorriso, a paz que ele me trazia, o jeito como pegava o dinheiro da minha mão, a forma como procurava dentro de uma cuíca de palha o troco em moedas de cobre. Dona Rosa, minha doce velhinha honesta que confiava em moleque danado, seu andado vagaroso, o jeito como encarava a gente e perguntava: “De quem tu é filho, meu doce?”. Dava o troco com a mão trêmula devido a idade, agradecia o freguês e dava benção até para os que não eram netos, como eu, que gostava quando ela me abençoava, aquela mão fina, o cheiro forte de colônia que se confundia com o perfume do leite de rosas. Ela me chamava de minha filha, eu ficava orgulhosa em ouvir aquilo apesar de saber que tratava a todos assim. Era bondosa demais pra fazer aquilo só com um. Era amável demais pra abençoar só a um. Não, a dona Rosa era gente pra deixar saudade mesmo. Pra fazer falta mesmo porque nos ensinou com a maior gentileza do mundo o respeito ao próximo, a confiança, a solidariedade, o amor. Era bem velhinha a Dona Rosa, mas marcou porque era a única por ali que vendia chops tão gostosos. A molecada não podia pegar em troco que corria pra sua casinha: um casebre de madeira que sempre estava com a porta encostada e a janela aberta, na frente da casa não havia placas sinalizando a venda porque não havia ninguém naquele lugar que não conhecesse o saboroso chop de quick de morango. Nossa, uma delícia. Naquela casinha que hoje nem existe mais pois foi demolida e agora abriga o mercadinho do Guilherme, nós chegávamos em gritaria pelo nome dela, a nossa vovozinha do chop delícia. Chamávamos por seu nome, mas da janela entreaberta conseguíamos, com um pouco de esforço, enxergá-la na salinha estreita, aos balanços na velha cadeira de ferro e cipós de plástico colorido. Ela nos mandava adentrar a casa, íamos até a geladeira e escolhíamos o chop predileto, dávamos o dinheiro da compra e ela abençoava a molecada e retribuía com um beijo na mão. Beijo de avó, carinho de mãe, amor de gente! Talvez ela não saiba, mas nos ensinou grandes lições quando confiava a nós a escolha do troco, a confiança de invadirmos a sua casa e a honestidade em nos deixar escolher o chop mesmo sabendo nós que ela mal enxergava direito. Confiou em cada um daqueles moleques que comigo, sem dúvida, sentem orgulho de ter tido o privilégio de tê-la por perto, nos dando a honra de sermos seus eternos netos e discípulos dos seus ensinamentos.

A dona Rosa é mãe do seu Mathias, avó do Zeca e de seus irmãos e primos. Mãe do inesquecível Antonio Augusto que já se foi também. Esteja em paz vozinha. Te amei muito, saiba!

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