17 de fevereiro de 2010

Adeus Kayo. Vai em paz, amigo!


Cheguei de Santa Luzia ainda a pouco com o coração em luto. O peito carregado de angústia e uma sensação horrível de desconsolo. Estive no 1º CarnaNega, na casa da minha amiga Neguinha da Gorety. Cheguei ao 47 com aquela alegria de que o carnaluziense seria um dos melhores. O salão da casa dela estava lindo e arrumado a espera dos convidados - amigos, gente que convive conosco desde muito tempo e que junto de nós viveram as mais inenarráveis histórias. Caixas e caixas de cervejas esperavam pelos brincantes desta folia de 2010. Tudo prometia. A noite estava linda e a decoração transbordava alegria por todo o ambiente. Sentei à mesa e todos estavam felizes pulando as marchinhas de carnaval, aquelas antigas, mas que ainda fazem muito sucesso nos dias de folia. Conversei com um monte de gente, bati fotos com quase todas as mesas pra poder postar no blog e vi quando os gêmeos chegaram: juntos, rindo pra todo mundo, brincando e dançando também. “Vou bater uma foto com eles”, eu pensei. Mas o tempo foi muito curto e, em segundos, eles já não estavam mais lá. Ninguém sabia, mas um deles sairia daquela festa e não voltaria nunca mais. A vida, sabe Deus porque, pega a gente de surpresa e, em alguns minutos depois, soubemos da queda de moto que alguém na rua havia sofrido. No interior tudo é motivo de pânico e a festa esvaziou com a notícia do acidente, mas as pessoas que voltavam de lá diziam o que nós queríamos ouvir, que não era nada de grave e a folia continuou. A noite passou em horas e o dia amanheceu nublado aquele domingo. Algo de muito estranho pairava no ar. Fomos à tarde seguir o bloco atrás de um trio elétrico e tudo estava muito empolgante quando a tragédia foi confirmada: “O Kaio morreu!” Como? Todos ficaram estarrecidos. A cidade parou o trio emudeceu . O axé baiano, o funk carioca, o forró nordestino e o brega paraense se renderam à notícia daquela tragédia. Uma queda de moto, um baque forte na cabeça e o menino de apenas 17 anos e um sorriso de dar inveja estampado no rosto saiu de cena pra brilhar em outros carnavais. Impossível não se comover. Improvável não se render ao choro diante dos fatos. Como não pensar nos pais? Nos amigos? Na mãe? No irmão gêmeo que precocemente perdeu seu par, seu amigo, seu companheiro? Depois da morte, como esquecer da vida tão cheia de sonhos de um garoto maroto, brincalhão e empolgante que fez história nos corredores não só das folias de carnavais mas também nas ruas e praças do 47? Será triste viver sem ele porque fica no irmão idêntico a maior lembrança. A cada vez que vermos o Kaik daqui pra frente sentiremos que algo está faltando. E, por enquanto, será difícil sorrir, pular o carnaval porque perdemos o nosso pierrot. Perdemos um amigo, uma pessoa que fazia a gente feliz. Com a morte do Kaio, o carnaval perdeu a cor. A vida por enquanto perdeu o sentido para os que conviveram com o seu jeito moleque e divertido de ser. E, hoje, a minha sensação é que não vencemos o tempo. O ser humano é impotente diante deste vilão que nos arrasta em segundo ao desespero de não entender e não codificar os seus sinais. Por isso todos na pequena cidade se sentem culpados, uns por não terem ido junto na garupa daquela moto e talvez impedido a queda, outro por ter emprestado a chave ao menino, outros por não terem impedido que ele saísse da festa, outro, como o pai, por não estar por perto e protegido o filho, o irmão por ter ficado e o deixado ir...Mas de fato, ninguém tem culpa.. a não ser o tempo, esse relógio que faz correr a vida e que não sabemos por quais motivos tirou o Kaio de nós cedo demais, antes que outras belas histórias ele tivesse vivido, antes mesmo de pular o carnaval festa da qual era personagem principal. Ninguém tem culpa, nem ele porque se soubesse, se imaginasse o perigo pensaria duas vezes. O tempo é o culpado dessa fatalidade. E como diz o Renato Russo numa de suas canções: “É tão estranho, os bons morrem jovens, assim parece ser quando eu me lembro de você que acabou indo embora cedo demais”. Com a morte do Kaio é essa a sensação que vai ficar na gente. E, além disso, a certeza de que ele era um bom menino, um excelente amigo, um ótimo filho e um irmão muito legal. Vai com Deus, amore. Você, temos certeza, era uma pessoa especial, tanto que no boletim médico expedido pelo hospital temos o laudo: morte cerebral. O cérebro parou, mas o coração, por horas, reagiu e seguiu batendo, numa resistência de quem se mostrou insatisfeito em morrer, mas deixando a todos nós a certeza de que muitos outros carnavais virão e muitas boas lembranças ficarão. O Tum Tum Tum dos tambores e tamborins da folia foram substituídos por você, menino Kaio, pelo pulsar do seu coração. Batimento cardíaco que resiste pralembrar aos que ficam que a vida...A VIDA CONTINUA!

Vai em paz, amigo! Durma com os anjos e roga por teu pai que está necessitando de muita força nesse momento. Guardaremos boas lembranças, moleque. Não te esqueceremos seu menino levado, seu pestinha sapeca. Voe, anjo, e reza por nós!Força Edno. E paz, em Santa Luzia...Olhái por este teu filho, minha santinha.E que o Senhor esteja conosco!

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