10 de agosto de 2010

"Não sou nem PT e nem 22, sou padre!"

"Não sou justiceiro, nem político sou padre. Não tenho nada a ver com as prisões e respeito a todos"


Acordei cedo para não perder a missa dos pais referendada pelo Padre Elias, mas a bermuda muito curta não me permitiu o pecado de entrar na igreja para a benção do dia. Eu havia combinado com a família que iria à igreja rezar pela saúde de papai e acabei tendo que assistir à missa do lado de fora.

Impossível não se emocionar com as palavras do padre, insensato não seguir os seus conselhos, insano seria os fiéis que perdessem as profecias de um pároco tão doce, nobre, inteligente e comprometido com a comunidade.

Fiquei ali ao lado da gruta da santinha ouvindo de longe aos seus pedidos e exigências: prega a paz na cidade, o amor entre os cristãos, a amizade entre os homens, bons costumes, as boas relações e o respeito mútuo.

Ele terminou a celebração e foi interrompido por mim que pedi um tempo para uma conversa. Ele riu meio de lado, agradeceu a companhia e aceitou ao meu convite. Fomos para a casa Paroquial e ao invés de um minuto ele me cedeu três horas, três hora s de muito riso e muito ensinamento:

“Eu sou um cidadão como outro qualquer e exijo o que nos é dado por direito, não sou policial, sou padre!”

PADRE ELIAS: MITO OU REALIDADE? DESERTOR OU JUSTICEIRO?AMIGO OU INIMIGO? Quem dirá? Importa que a imagem desse homem simples de sorriso tímido, jeito doce e palavras fortes já é mais comentada nas ruas e lares da cidade que os próprios rumos que a comunidade terá que traçar.

Cheguei ao 47 em meio ao alvoroço de prisões, acusações e mandatos de buscas e apreensões. Na cidade, a polícia Civil arrombava cadeados e algemava os suspeitos, a população corria curiosa de um lado para outro enquanto ele rezava, pedia um bom dia ao Pai que está no céu.

Padre Elias me contou que acordou cedo aquele dia porque tinha deveres com o sacerdócio e se aprontava quando soube do raspa que a justiça estava fazendo na cidade. Ele, que confia mais na lei divina que na dos homens, seguiu seu rumo à comunidade do 74 onde rezaria a missa.

E enquanto dirigia seu carro ao seu destino, ele não sabia das repercussões sobre o caso - foi o que me disse.

Apesar de se pôr à margem dos acontecimentos não há quem diga que não foi por ele as respostas positivas da justiça na cidade. Tem gente que culpa o padre pelos acontecimentos mas ele é modesto e disse que não tem poder o suficiente para esse fim. Pode até ter contribuído para o anseio da população em relação à paz, mas não denunciou ninguém, não exigiu que a polícia viesse e muito menos exigiu prisão a qualquer um dos envolvidos.

“Cabe à policia os termos da lei, não incentivo a guerra porque ela é um mal para a sociedade,mas não impeço a paz porque sei que ela é necessária”

Perguntei ao padre Elias sobre a ideia que as pessoas estão criando a seu respeito, gente que o considera o justiceiro, o nosso Antonio Conselheiro desse Canudos chamado de Santa Luzia.

Ele me afirmou que não sabe de onde vem essa coisa toda, esse comentário e essa preocupação, que age dentro dos regimentos cristãos, exige o bom comportamento, estuda advocacia mas não está na cidade para defender a constituição e sim os dez mandamentos da lei de Deus.

“Mas você tem que crer e pensar que se o cristão age como cristão ele para de tomar certas atitudes e isso impede a violência”.

“Não quero os meus fiéis presos, sejam eles quem forem, meu dever e libertá-los do mal da droga, do mal da fome, do desemprego e do desespero, de todos os males, essa é a minha função. Acho até que eu me meto pouco em política, nunca pedi voto pra qualquer candidato. Peço sim, ajuda aos candidatos para a paróquia e na hora que a igreja precisa eu vou ao prefeito e ao deputado, mas não uso isso como ajuda pessoal ou mesmo individual, o que peço não é pra mim é para a paróquia, mas se um político dá uma geladeira, um fogão, uma bicicleta ou um patrocínio, eu agradeço na missa, no leilão e se isso faz ele ganhar popularidade aí eu não tenho culpa, ele deu, eu tenho que agradecer, em nome da comunidade e do bem que ele está fazendo!”

Perguntei ao padre sobre os desejos políticos que a comunidade católica tem feito relacionados ao seu nome.

Se o senhor é o salvador da pátria eu não sei, o certo é que muita gente acha isso e chaga até a afirmar que o senhor poderá ser o prefeito mais votado se chegar a se candidatar. O que o senhor pensa sobre isso?

(risos) Não vou ser candidato, nem eu nem a igreja permitiremos isso. Tenho um propósito cristão em Santa Luzia, a igreja precisa de mim e eu sou feliz com a minha escolha. Estou aqui para servir a Deus e em nome dele servir à comunidade, se isso está se estendendo aos fins políticos é só na cabeça dessa gente porque eu mesmo, dona Junia, nunca nem pensei em ser prefeito ou político. Primeiro porque eu sei que se eu fosse candidato ninguém se juntaria comigo porque a primeira coisa que um político do meu lado jamais poderia fazer era comprar votos ou participar da corrupção pois eu mesmo iria denunciá-lo. Quem aqui desta cidade vai ser meu companheiro no palanque? Ninguém! Deus não me permite usar o dinheiro público para o aproveitamento próprio. Vou ficar na igreja, aqui eu não tenho nada e não roubo nado porque tenho meus idéias religiosos, as minhas prestações de contas com a comunidade e não vou levar nada, nem o que eu tinha porque talvez eu já não os tenha mais.

E sobre os seus inimigos políticos. E verdade que o senhor é opositor do prefeito?

Nem pensar, não tenho inimigos, isso é contrário ao que prega a igreja. Passo nas ruas e falo com todos, digo bom dia, dou a paz e a minha benção. Isso é coisa de gente que fala demais. Se eu tenho criticado na igreja alguma coisa, critico a administração pública que tem deixado a desejar em alguns aspectos e não o Louro. Agora, infelizmente, ele é o prefeito e acaba sendo uma espécie de alvo,mas não desejo o mal e não sou seu inimigo, rezo por ele também, a nossa cidade precisa de um político sadio e são. Não sou nem PT e nem 22. E se eu fosse um dos dois agora nem teria problema os dois estão juntos mesmos, né?

E sobre as prisões na cidade, o povo tem dito que tudo isso é por causa do senhor que fez a caminhada pela paz e tem exigido cada vez mais uma policia séria e comprometida.O que o senhor tem a dizer?

Não sou o responsável por nada disso, há anos o povo queria e pedia paz, fizemos a caminhada e ela gerou uma repercussão danada aqui dentro e lá fora. Não vejo que eu fui o responsável, eu não, nem pensar. Os responsáveis são os que estão envolvidos, pelo que li no jornal. A população tem que saber e ter consciência que a justiça tarda mas não falha e que a justiça de Deus, essa não falha nunca. É preciso fazer a coisa certa e agir como cristão senão vai acabar nisso. Não sou justiceiro, nem político sou padre. Não tenho nada a ver com as prisões e respeito a todos, não vejo como advogado e espero que a justiça seja feita – se essas pessoas forem culpadas. Se forem inocentes que a justiça os absolva e que Deus os perdoe ou os acolha.

NÃO SOU INIMIGO DE NINGUÉM, FAÇO A MINHA PARTE COMO CRISTÃO, SE TODOS FIZESSEM A SUA, ESTA CIDADE SERIA UMA DAS MELHORES PRA SE MORAR!

Tivemos uma conversa emocionante e muito do que eu não escrevi aqui, guardo como ensinamento deste que é um dos padres mais populares e atuantes que já aportaram em nossa cidade. OBRIGADA, PADRE ELIAS, pela conversa e pela aula de boa conduta. A Deus o dever do perdão, ao senhor o prazer de ver suas ovelhas no caminho da santa e tão querida paz.

Deus nos abençoe.E obrigada pela forma com a qual eu fui tratada em sua companhia. Foi um prazer! Conte comigo sempre!

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