14 de janeiro de 2010

LÚCIA MACHADO: UM MITO VIVO


Eu ainda nem sabia o que era oposição quando ouvi falar e conheci a jovem atriz Lúcia Machado. É. Atriz! Nós do km 47 bem que sabemos que os pisos e paredes do Salão Paroquial guardam grandes histórias dos tempos em que ela foi personagem principal. Naquela época as comemorações religiosas que envolviam o calvário, a morte e ressurreição de Cristo, em dias de quaresma, eram comemoradas tradicionalmente na Barraca da Santa que ladeava a igreja e a praça da Matriz no 47, a cidade de santa Luzia do Pará. Alí, na Semana tida como Santa acontecia a peça teatral “Paixão de Cristo” interpretada pelos jovens atores da cidadezinha - Nego do Manelão, Edson Martins e sua namorada, a Rosana, Jorge Cirino, Manoel, Antônio Moura, Adelson, Louro, Corrinha do Feliciano, Elder e a Lúcia Machado – a galera que assumia o papel, a direção e a produção do evento. Eu ainda era uma criança mas daquela desconfortável cadeira de madeira eu assistia a tudo abismada e já sabia do potencial artístico daquela juventude que arrancava aplausos, risos e lágrimas da plateia boquiaberta com as suas atuações. Mamãe é beata participante e atuante da igreja e aquela noite era promovida pela Paróquia juntamente com a Pastoral da Juventude – financiada pelo padre italiano Rafael, por isso todos nós íamos assistir o evento. Assim que, conheci, vi e admirei a jovem e inesquecível Lúcia Machado, que, na pele de Maria Madalena, prostituta defendida por Jesus, enxugava aos prantos o rosto de Cristo ao som de uma música interpretada por ela mesma “Por que você o matou? Porque você o matou? Homens cruéis como é cruel a tua luta...”. Dali, do pequeno palco de madeira com luzes, atores e cruzes improvisadas, eu cresci acompanhando a sua labuta diária. A garota do palco das ilusões partiu para as transformações e desejos reais, a realidade. Ganhei idade ouvindo a Lúcia nos palanques. Me tornei adolescente escutando os seus projetos, defendendo os seus ideais. Fui mulher crendo na sua justiça e ganhei o direito de voto querendo também os seus planos. Era bonito ver aquela jovem de cabelos pretos e rosto sofrido desabrochar de uma cidade tão pequena e sem ter cursado a universidade, mas tendo desenvolvido tanta disposição para o conhecimento. A Lúcia é autodidata. Aprendeu com a vida a defender os mais carentes. Criou inimigos buscando o utópico e por ter brigado por lutas que nem eram suas mas que aceitou como sendo. Mulher de fibra, a Lúcia provou a nós que a mulher realmente não é o sexo frágil. Poucas foram as vezes em que eu a vi numa vida normal, passeando com o filho e com o marido. Seu cenário sempre foi o palanque: seja no chão, em cima de um caminhão, por cima das calçadas, ou mais tarde nos holofotes modernos de um Trio Elétrico, ela fez história nos seus discursos e palavras que ecoaram a quilômetros de distancia nas vilas e becos dos interiores do 47. Microfone, garganta, público e um monte de sonhos e planos saiam da cabeça da menina luziense engajada politicamente. “Comunista”, insultavam alguns, “Doida”, gritavam outros, “Exagerada”, arriscavam os mais tímidos. Não importa, ela sabia ser objetiva na sua briga. Socialista, petista, comunista, Lulista...não interessava, importava que ela era do contra, que o povo soubesse que era o nome da oposição, que não concordava com o sistema da situação. Admiro a Lúcia por sua coragem, ser mulher e petista numa cidade como o 47 não é pra quem quer é pra quem tem realmente coragem e ela mostrou, nesses anos todos, pra que veio. Tornou viva a memória de Quintino. Militante e respeitada por sua luta em favor do meio ambiente, ela tema cara do Chico Mendes. Embricada nas desobrigas da política e da igreja defendeu os mais pobres, os ruralistas, conviveu na Cidapá, organizou lutas em prol dos sem-terras, organizou movimentos rurais, sindicalizou o povo das brenhas do Bacaba, Piritoró, Enche Concha, Fuzil...A Lúcia tem jeito de Capitão Lamarca, e sonha como o Lampião. Defensora dos cidadãos da zona rural, participou das reivindicações das associações todas. É conhecida quando a discussão envolve os direitos da mulher, pois luta pela ala feminista. Para os que não sabem, a luziense Lúcia Machado, a pequenina mulher de sorriso largo e vermelho atuou ativamente na emancipação do município de Santa Luzia quando da briga para o separatismo de Ourém, pois já militava no partido comunista. Ainda muito jovem, era engajada politicamente na época em que o nome de Socorro Gomes era um dos mais influentes da política feminista do país. E, é por isso que, na história de nosso Município, esse é um dos nomes que não pode faltar como sendo uma personalidade porque ela, a Lúcia, definitivamente marcou a nossa história e merece ser homenageada: foi a única candidatura aceita e eleita nos anos todos de existência do município de Santa Luzia, única mulher com cinco mandatos consecutivos e de expressiva votação e aceitação popular, o nome, a marca mais conhecida entre os vereadores do estado do Pará, a única mulher e política a ser condecorada com honras e premiação expedida pelo governo estadual e federal na região e um dos poucos nomes políticos nunca envolvidos em escândalos de roubo e corrupção no Brasil. Mãe, mulher, esposa, política, militante, idealista, honesta, vereadora e outras coisas mais. A Lúcia é mulher de personalidade forte e de ideias consistente, soube ser oposição até quando foi da situação. Admirada, odiada, cultuada e vaiada, não deixa dúvidas: sem sua participação, Santa Luzia, suas lutas e buscas sociais, não seria a mesma. Então para aqueles que a odeiam ou a criticam, nada contra, mas numa coisa todos hão de concordar...se não conseguem amá-la como pessoa... RESPEITEM pelo menos a sua história pois não é todo dia que encontramos uma mulher assim... com um currículum desses.

2 comentários:

Thaisa disse...

Sinceramente, estou muito emocionada com essa brilhante história de vida...vc descreveu exatamente a mesma coisa do que eu pensava e penso a respeito dessa mulher...
Estás de Parabéns!!!

Joana D'arc Soares Vieira disse...

Sinceramente, estou muito emocionada com essa brilhante história de vida...vc descreveu exatamente a mesma coisa do que eu pensava e penso a respeito dessa mulher...
Estás de Parabéns!!!